São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Aumentam os adiantamentos das exportações

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A redução na importação de automóveis e eletro-eletrônicos deve ter um efeito indireto importante: o aumento dos negócios de exportação, que estavam bem reduzidos desde a crise cambial do início do mês de março.
Esta foi a avaliação obtida ontem entre exportadores e executivos do mercado financeiro. Em particular, exportadores informaram que pretendem voltar a fazer Antecipação de Contrato de Câmbio, ACC, operação que consiste na venda de dólares ao Banco Central por conta de exportações a serem embarcadas no futuro.
Esses ACCs caíram fortemente em março, dada a instabilidade na política de câmbio. A impressão dominante no mercado financeiro, até ontem, indicava que a cotação do dólar ainda poderia subir, já que o governo não estava conseguindo reduzir as importações.
E se a cotação do dólar pode subir, não é negócio vender dólar neste momento. Deixando para depois, o exportador poderia obter mais reais pelos seus dólares.
Em março, os exportadores venderam ao BC, na média, US$ 184 milhões por dia. Em fevereiro, que não é um mês bom para negócios, essa média diária havia sido de US$ 248 milhões. Ou seja, houve uma queda de 25%.
E os importadores fizeram o contrário. Anteciparam compra de dólar no BC.
O aumento do imposto de importação de automóveis e eletroeletrônicos muda o cenário. Em primeiro lugar, reduzindo-se os negócios de importação, surge uma tendência de queda na cotação do dólar.
Calcula-se que só neste mês os importadores de carros estariam gastando US$ 800 milhões. Se as vendas de importados, mais caros, caírem pela metade, conforme previsões do setor, os importadores deixarão de comprar US$ 400 milhões ao mês.
Essa redução na demanda por dólar já derrubou cotações. Até ontem, o dólar vinha oscilando entre R$ 0,90 e R$ 0,91. Ontem, caiu abaixo de R$ 0,90.
E havendo essa possibilidade de queda na cotação, os exportadores são estimulados a antecipar a venda de seus dólares. Volta a ser negócio vender dólares e aplicar os reais no mercado financeiro.
Além disso, há um efeito político. Ao optar pelo aumento do imposto de importação de alguns produtos que pesam na balança comercial, o governo indica que excluiu o caminho de uma desvalorização do real.
Se todos tiverem esta certeza, uma corrida contra o real perde o sentido. Em outras palavras, ninguém mais vai querer comprar dólares somente para vender mais tarde após uma eventual desvalorização do câmbio.
Ontem, exportadores consultados pela Folha diziam agora ter mais confiança na durabilidade da banda de variação do dólar entre R$ 0,88 e R$ 0,93. E essa estabilidade é propícia para a volta dos negócios.
O movimento de compra e venda de dólares dos próximos dias é decisivo para a avaliação dos resultados da nova tacada do governo na área cambial e na definição das próximas ações da equipe.

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