São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Câmbio comercial volta a ter superávit

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao promover um aumento brutal no imposto de importação de automóveis e eletrodomésticos, o governo assegurou o superávit de US$ 5 bilhões na balança comercial do país este ano. Apagou um incêndio, mas isso pode não ter sido suficiente para o surgimento de novos focos.
A elevação da alíquota de importação desses produtos para 70% criou a convicção de que não haverá dificuldades para se atingir a meta na balança comercial.
A virada no fluxo financeiro de câmbio de exportadores e importadores no dia seguinte ao anúncio da nova alíquota reforçou a crença de que o fantasma de um colapso semelhante ao do México ou de uma crise parecida com a que passa a Argentina foi afastado.
Na quinta-feira, dia 30, as vendas de dólares dos exportadores subiram para US$ 241,52 milhões e as compras dos importadores recuaram para US$ 176,68 milhões, resultando num superávit de US$ 64,84 milhões nas operações comerciais, revertendo um quadro de seis dias consecutivos de déficits.
"Estamos otimistas com o cenário daqui para a frente, salvo algum desastre aleatório", diz Alberto Alves Sobrinho, diretor da Fair Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários.
Ele prevê um movimento suave e gradual na taxa de câmbio, acreditando na manutenção da atual banda de flutuação, entre o piso de R$ 0,88 e o teto de R$ 0,93 até agosto. Depois disso, Alves Sobrinho estima uma alteração nessa faixa para R$ 0,93 e R$ 0,98, respectivamente.
Mais cauteloso, o vice-presidente do Banco ABC-Roma, Alfredo Neves Penteado Moraes, diz que as pressões na taxa de câmbio tendem a se esvaziar se a balança comercial -pelo movimento físico de embarques de exportações e desembarques de importações- passar a registrar superávits de US$ 700 milhões a US$ 800 milhões por mês a partir deste mês, para garantir saldo positivo de US$ 5 bilhões em todo o ano.
Para isso, ressalva ele, as importações precisam recuar da média mensal de US$ 3,7 bilhões em janeiro e fevereiro deste ano para algo próximo de US$ 2,8 bilhões -ou seja, voltar ao mesmo patamar mensal de 1994- hipótese bastante plausível com a esperada queda nas entradas de automóveis e eletrodomésticos importados.
Nessas estimativas, Moraes leva em conta que, comparando-se a situação atual com a vigente até fevereiro, os exportadores foram contemplados com ganhos adicionais da ordem de 15% nas suas receitas: 5% com a desvalorização do real frente ao dólar, outros 5% com a devolução da Cofins e do PIS embutidos nos seus produtos e os restantes 5% com a diferença entre o custo financeiro do ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio) e a taxa de juros interna.
Nem todos compartilham desse otimismo. O economista-chefe da Brasilpar, Flávio Nolasco, acha que o superávit comercial de US$ 5 bilhões pode não ser suficiente para equilibrar as contas externas.
Na sua avaliação, o aumento da alíquota de importação é uma medida emergencial e transitória que o governo vem utilizando para apagar incêndios e desarmar expectativas pessimistas desde o dia 6 de março, quando o Banco Central operou de forma desastrada a mudança na política cambial.
Somente em março, houve uma perda de reservas cambiais estimada em US$ 5,5 bilhões. Segundo estimativas de bancos, cerca de US$ 1,5 bilhão saíram do país através do mercado de dólar flutuante (dólar turismo).
Outros US$ 4,087 bilhões saíram pelo câmbio comercial, de acordo com os últimos dados do BC. Esse foi o déficit total no movimento de câmbio até quinta-feira passada, dia 30, incluindo exportações, importações, entradas e saídas de capital financeiro.
Até fevereiro, a estimativa era de que o país teria que gastar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões de suas reservas cambiais para fechar o balanço de pagamentos.
Isso porque a balança de serviços (pagamentos de juros da dívida externa, royalties, fretes, seguros e remessas de dividendos de multinacionais) deve fechar 1995 com um déficit estimado entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões.
Desse total, US$ 5 bilhões seriam cobertos pelo superávit na balança comercial e outros US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões com investimentos produtivos diretos.
A perda de reservas em março, porém, consumiu todo o superávit comercial previsto para o ano. Ou seja, mesmo que a saída de dólares seja estancada de abril em diante o país terá que gastar US$ 5,5 bilhões a mais das reservas.

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