São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Classe média desiste do carro importado

GRAZIELE DO VAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento das alíquotas para importação de carros liquidou o sonho da classe média de adquirir um carro importado. Os que tinham dinheiro disponível, ou mes mo aplicado, correram às revendedoras que ainda não haviam repassado a alta para fechar o negócio. As lojas que não tinham o produto fecharam por tempo indeterminado ou, então, abriram as portas mas suspenderam as vendas.
"Não dá para continuar comercializando se não sabemos exatamente que alíquota empregar. Estamos em compasso de espera até a semana que vem, aguardando mais definições", afirma Paulo Izzo Neto, proprietário de seis concessionárias da Toyota, Chrysler e BMW em São Paulo.
Segundo ele, 70% dos clientes que tinham carros encomendados querem cancelar os pedidos.
"Eles estão bastante apreensivos com essa situação", disse.
Fábio Steinbruch, proprietário da S. Class, que comercializa automóveis Subaru, também suspendeu os negócios. "Não dá para repassar ao comprador um aumento tão abusivo, nem para ter prejuízo. Estamos devolvendo o sinal para aqueles já haviam feito encomendas", disse.
"As pessoas ligam sem parar e pedimos que aguardem um pouco para podermos avaliar o impacto do decreto", afirmou Fábio Appolinário, gerente da Dealer, uma revendedora Suzuki.
A decisão do governo fez com que o engenheiro Sérgio Calil repensasse a decisão de adquirir um carro importado. "Estou refazendo as contas da compra em função do aumento", disse.
Na opinião dele, o governo agiu de forma "intempestiva", desrespeitando os consumidores e os investimentos dos importadores.
Assim que soube da novidade, Maria Graziella Cochrane correu até uma loja da Renault.
"Vim debaixo de chuva para fechar o negócio", afirmou. Ela classificou a alta como "péssima". "Acho muito perigoso tomar uma medida tão drástica de forma tão precipitada", disse.
Como a demanda duplicou nas lojas que tinham automóveis disponíveis, os estoques acabaram.
"Nosso estoque se esgotou em dois dias", afirma Paulo de Castro, da Renault Colômbia. A loja não repassou de imediato a alta para os preços dos carros.
A loja da Peugeot da avenida Europa adotou estratégia diferente. "Aumentamos os preços entre 10% e 20% e vamos subindo progressivamente até chegar a 40%, nos próximos 60 dias", disse Benjamin Apter, diretor comercial do Grupo Carrera.
"Comercializamos em média 120 carros por dia e ainda temos 200 em estoque", afirmou.

Texto Anterior: Freio na abertura põe estabilidade em xeque
Próximo Texto: Aumento tem 'efeito cascata' no IPI e ICMS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.