São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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As preocupações de Mourão

LUÍS NASSIF

O mais importante economista brasileiro da atualidade, principal formulador do conjunto de idéias que resultou na "teoria da integração competitiva" -que serviu de base teórica para a abertura econômica dos anos 90-, Júlio Mourão viu "com tristeza" o aumento das alíquotas de importação. De certa forma, o Plano Real perde o charme. Mesmo assim, foi um mal necessário, admite ele.
Mourão tem críticas ao processo de abertura conduzido no final do ano passado pela equipe econômica. Foi uma abertura meramente pontual, observa ele. Visou-se apenas controle de preços e punição a setores industriais.
Fazia mais sentido a política anterior, de redução gradativa da tarifa de importação de automóveis até o ano 2000, de maneira programada. Mas aumentar ou reduzir tarifas ao sabor de eventos, sem visão de política industrial, é complicado, diz ele.
Mourão continua acreditando que a intenção do governo é proceder a não mais que um fechamento provisório da economia. Mesmo assim, considera que o nível das alíquotas de importações foi tão alto que, inevitavelmente, vai abrir espaços para a indústria nacional aumentar seus preços -o que é ruim.
A perspectiva de que as tarifas voltem a baixar mais à frente manterá as empresas preocupadas em preservar sua atual estrutura de custos -o que é bom.
Câmaras setoriais
Desde o início do processo de abertura, Mourão considera que houve mudanças significativas no modelo das câmaras setoriais. Hoje é maior o risco de elas se tornarem instrumentos de ação corporativa.
No primeiro momento, a câmara automobilística estava subordinada a uma visão de política industrial, com cronograma, ganhos por setores e compromissos de investimentos. A idéia do entendimento de setores interessados também é correta, considera ele. A experiência demonstrou o fracasso, em vários momentos, de políticas baixadas em oposição a setores econômicos.
Mas não se arrisca a avaliações definitivas sobre o futuro das câmaras.
Funcionário aposentado do BNDES, Mourão continua acreditando no papel do banco, que saiu fortalecido da crise externa. Não podendo contar com recursos externos, o país terá de fortalecer seus mecanismos de financiamento interno.
Aposentado
Sem vinculações com grupos políticos, sem vocação para consultoria privada, o mais criativo economista brasileiro desde Ignácio Rangel -seu mestre- satisfaz sua vocação pública em casa, estudando.
Só um país como o Brasil para se dar ao luxo de abrir mão de seu talento e seriedade.

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