São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995 |
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Mostra reúne imagens deixadas por Billie
SÉRGIO AUGUSTO
Sua mais antiga performance registrada por uma câmera data de 1935. Em "Symphony in Black", curta rodado por Fred Waller nos estúdios da Paramount em Nova York e estrelado pela orquestra de Duke Ellington, ela cantava "Jealousy Blues" e um trecho de "Saddest Tale". Foi sua primeira apresentação fora dos clubes do Harlem. "Jealousy Blues" seria aproveitado, 36 anos mais tarde, no ótimo documentário sobre a Depressão, "Brother, Can You Spare a Dime?", de Phillip Mora. O cinema sempre a fascinou. A recíproca? É só botar a memória para funcionar. Joseph Losey usou em "Eva" (1962) duas gravações dela, "Willow Weep For Me" e "Loveless Love". Em sua estréia como diretor, "O Amanhã Chega Cedo Demais" (Drive, He Said, 1970), Jack Nicholson encaixou "I Cried For You". Uma das cenas do desenho animado "Fritz the Cat" (1970), de Ralph Bakshi, era embalada por "Yesterdays". Salvo engano, até a filme brasileiro a voz de Billie já emprestou o seu fossento "mood". Carreira na tela, ela até que tentou, mas sem sucesso. Para alegria de Ethel Waters (1900-1977), que por muito tempo praticamente monopolizou o restrito espaço reservado a cantoras negras em Hollywood e não ia com a cara de Billie -outra recíproca verdadeira. Depois, chegou a vez de Lena Horne, 77, de quem, aliás, Billie tinha a melhor impressão. Quando Dorothy Dandridge (1923-1965) entrou em cena, Lady Day já estava mais pra lá do que pra cá. Tão mais pra lá que pensaram em convidar Dandridge para protagonizar a versão cinematográfica de "Lady Sings the Blues". Consta que Billie teria aprovado a escolha. Também consta que ela se enfureceu quando se cogitou o nome de Ava Gardner. Claro que Ava não se incomodara ao saber que Billie a dublaria em "O Barco das Ilusões" (Show Boat), cinco ou seis anos antes. Nem isso, porém, Billie fez. Ava acabou dublada por Eileen Wilson. Foi ainda em Nova York, e com apenas 18 anos, que Billie viveu sua primeira aventura cinematográfica: como extra numa cena de "The Emperor Jones", adaptação da peca de Eugene O'Neill feita por Dudley Murphy, com Paul Robeson no papel principal. Uma década e meia depois, baixaria em Hollywood. Para participar, com perdão da palavra, de uma tremenda baixaria. Então no auge da fama, ela não precisava do papel de empregada doméstica que lhe ofereceram em "New Orleans", ao lado de Louis Armstrong, Woody Herman, Meade Lux Lewis e outros. Risível "historia da odisséia do jazz", dirigida por Arthur Lubin em 1947, "New Orleans" teve o demérito extra de transformar Armstrong em mordomo. Por uns tempos, no início dos anos 40, como consequência de uma excursão à Califórnia com Ellington, Billie morou em Hollywood, no anexo do hotel Clark, onde conviveu com a nata do show business local. Lena Horne morava no andar debaixo. Nas vizinhanças, dois outros admiradores especiais: Orson Welles e Humphrey Bogart. Maior queixa dela: "As bebidas nas casas dos artistas eram sempre servidas com muito atraso". William Cowan, que rodou um documentário com ela e Count Basie em 1950, foi o primeiro produtor interessado em levar à tela "Lady Sings the Blues". O filme seria dirigido por Anthony Mann e, felizmente, sucumbiu ao caos. Já imaginaram Billie encarnada por Lana Turner? Pois é, pensaram nela. Diana Ross, a estrela da versão que enfim medrou, com uns 15 anos de atraso, ao menos tinha o físico do papel. O que não impediu que "O Ocaso de uma Estrela" resultasse num biomusical desonroso. Pífio, fantasioso e glamourizante. Texto Anterior: A deusa do jazz Próximo Texto: Herança da Lady Day Índice |
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