São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Vacina anticatapora pode ser universal

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O vírus da varicela (catapora) passou a ser muito discutido recentemente entre especialistas e público depois que as autoridades sanitárias consideraram a possibilidade de licenciar a vacinação universal de crianças contra a doença por ele causada.
É moléstia benigna, que praticamente ataca todas as crianças, mas pode assumir forma grave após os 15 anos, especialmente em idosos, doentes e pessoas com imunodeficiência (Aids, por exemplo) quando expostas pela primeira vez ao vírus.
A virose, espalhada por todo o mundo, manifesta-se por vesículas na pele, que secam e desaparecem, raramente deixando alguma eventual cicatriz. O vírus pertence à mesma família do herpes.
A infecção transmite-se pela aerossolização das gotículas vesiculares e pelo contato e proximidade. Do ponto de entrada, o vírus, após replicar-se na árvore respiratória, passa para o aparelho circulatório e atinge a pele.
Em condições normais, o sistema imunitário corta a propagação do vírus que, vencida a fase patente, caminha pelos nervos até certas células onde permanece latente; quando a imunidade diminui, ele se exacerba e caminha pelos nervos correspondentes, provocando inflamação (neurite) com formação de séries de vesículas muito dolorosas ao longo do trajeto epidérmico do nervo (zóster).
Na década de 70, descobriu-se no Japão uma vacina protetora contra a catapora (amostra Oka) feita com vírus vivo e atenuado.
Ela foi aplicada com pleno êxito em mais de 2 milhões de crianças no Japão e na Coréia. Foi também aplicada em pequena escala nos Estados Unidos e na Europa em crianças com imunodeficiência.
Verificou-se que os anticorpos por ela produzidos persistem por 8 anos e a mobilização específica dos glóbulos brancos uns 6 anos.
Não obstante, às vezes, a vacina falha, ensejando recaídas em geral benignas.
Muito se tem discutido quanto à conveniência da vacinação universal, em particular pela possibilidade de o vírus vacinante se tornar latente: essa latência poderia mais tarde manifestar-se como zóster.
Além disso, caso a vacinação falha, os adultos vacinados quando crianças ficariam sujeitos às formas mais graves de varicela.
Não há dúvida que nesses casos pode ocorrer a exacerbação da vacina como zóster, o que é menos intenso frequente que nos casos de infecção natural.
A inclusão de adultos e adolescentes sem passado de varicela deve ser recomendada em todo programa de vacinação universal, afim de proteger contras as formas mais graves de varicela, que sobrevêm após a infância.
Fato curioso, salienta Stanley A. Plotkin ("Science", 265, 1384), o aspecto menos controverso do uso da vacina é em crianças que estão recebendo tratamento imunosupressivos (por exemplo, no câncer).
Vários tipos de vacina contra catapora-zóster estão em desenvolvimento. Afirma Plotkin que o mais importante uso da vacina contra varicela-zóster consiste em sua aplicação potencial como "terapia" para prevenção do zóster.
Explica ele que o zóster decorre de diminuição da imunidade celular ao vírus, o que talvez possibilite reestimular essa imunidade pela injeção do vírus vivo.
A medida seria particularmente útil a idosos, pois, se reduzimos a incidência da doença na infância, poderemos paradoxalmente aumentá-las nos avós porque eles não mais receberão os estímulos naturais à imunidade ligada ao vírus, que normalmente recebem.
A prática parece confirmar nesse caso a teoria.

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