São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Anti-semitismo afetou mulheres

VANESSA DE SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"A mensagem da emancipação feminina é uma mensagem divulgada unicamente pelo intelecto judeu, e seu conteúdo é caracterizado pelo mesmo espírito".
A frase, de Adolf Hitler, talvez dê a exata dimensão de como as mulheres, em especial aquelas que se dedicavam à ciência, eram vistas pela Alemanha nazista.
Durante cerca de 80 anos a Alemanha foi o centro tecnológico-científico do mundo. Entre seus "produtos de exportação" inclui-se Max Planck, Albert Einstein, Max von Laue, Werner Heisenberg, Erwin Schrõdinger.
Em meio aos "figurões", circularam algumas "mulheres ousadas". Várias delas tiveram que contar com a ajuda dos amigos "influentes" para que pudessem continuar pesquisando.
Outras, foram perseguidas pelo hitlerismo e anti-semitismo em ascensão na Europa e tiveram que deixar o país, em busca de neutralidade política para continuar desenvolvendo suas pesquisas.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a física Lise Meitner. Austríaca, a princípio não foi atingida pelas leis anti-semitas alemãs. Mas o exército alemão marchou sobre a Áustria, em 1938.
"A judia põe o instituto em perigo e deve ir embora", disseram os diretores do Instituto Kaiser Wilhelm, de Berlim. Apesar de ter que deixar o cargo, foi impedida de viajar.
Rita Levi Montalcini, que recebeu o Nobel de Medicina em 1986, sofreu a "exclusão" dos judeus à prática da ciência. Passou muito tempo estudando o desenvolvimento de células nervosas no laboratório improvisado num quartinho, escondida da polícia.
Montalcini montou o laboratório depois de o governo fascista ter impedido que judeus praticassem a medicina durante a 2ª Guerra Mundial.
O anti-semitismo não se restringiu, é claro, às mulheres. Em 1901, a Universidade de Zurique queixou-se de que "Albert Einstein é um israelita, e os israelitas são vistos (...) como portadores de desagradáveis particularidades, como insolência, intromissão e mentalidade de vendedor".

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