São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Fujimori é favorito na disputa presidencial

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Aparentemente se dissiparam, nos últimos dias, as esperanças da oposição peruana de que a reeleição do presidente Alberto Fujimori, no dia 9 de abril, já não estaria garantida diante das acusações de má desempenho na guerra contra o vizinho Equador.
Informações nunca confirmadas falavam de constatação do próprio Serviço de Inteligência Nacional (SIN) dando baixa de 16 pontos na popularidade de Fujimori.
Mas, nas últimas pesquisas, ele ficou com 47,2% de apoio, o suficiente para ganhar no primeiro turno, se a tendência se mantiver.
Sue principal adversário, Javier Pérez de Cuéllar, ex-secretário-geral das Nações Unidas, baixou de 21,8% para 19,4%.
Também parece subir a cotação da Cambio 90-Nova Maioria, coligação fujimorista ameaçada de perder a maioria parlamentar.
Azarão nas eleições de 1990, como candidato do recém-criado Cambio 90, Fujimori não só liquidou o amplo favoritismo do escritor Mario Vargas Llosa, como passou por cima de todos os partidos tradicionais.
Como era engenheiro sem experiência política, filho de imigrantes japoneses, os derrotados ainda esperavam veto por parte de militares racistas.
Aconteceu o contrário, Fujimori acabou assumindo poderes totais com apoio das forças armadas.
Pouco depois de empossado, em agosto de 1990, Fujimori repudiou tudo o que havia dito durante a campanha e lançou, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o "fuji-choque", programa radical de liberalização da economia peruana.
Em abril de 92, alegando que precisava derrubar "obstáculos à reconstrução do país", dissolveu o Congresso, interveio no Poder Judiciário e decretou o estado de emergência.
Surgia o fujimorismo, chamado de ditadura de botas militares e paletó civil.
"Não se trata de golpe, mas de mudança de rumo que reflete aspirações populares", afirmava o presidente.
Os "ajustes" abateram a inflação, que foi de 15,4% em 1994.
Entretanto, cerca de 80% dos peruanos ou estão desempregados ou fazem biscate, um enorme e inalterado quadro de pobreza extrema.
Sob pressão internacional e já pensando em continuar no poder, ainda em 1992 Fujimori convocou eleições constituintes, em parte boicotadas pela oposição, o que facilitou a operação destinada a embutir o direito à reeleição na nova Constituição.
Além do direito à reeleição, a maioria favorável a Fujimori aprovou em votação a introdução da pena de morte para terroristas na nova Carta.
Como se explica a continuada popularidade do presidente peruano se, externamente, o fujimorismo é tão mal visto, por todos esses fatos?
Analistas citam como melhor explicação o "eclipse" do terrorismo guerrilheiro Sendero Luminoso, a partir da prisão em setembro de 1992 de seu líder Abimael Guzmán.
Os peruanos se cansaram de violência que matou 27 mil pessoas e produziu 1 milhão de refugiados.
Mas os senderistas, apesar de novo golpe com a prisão recente de Margie Clavo, a segunda pessoa em sua hierarquia, voltaram a atacar na serra, mostrando que continuam vivos, apesar dos muitos atestados de óbitos passados tanto pelo governo quanto por senderólogos.
No dia 8 de março, o Departamento de Estado norte-americano alertou para a possibilidade que eles tentem lançar uma ofensiva terrorista as vésperas das eleições de domingo que vem.

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