São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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De milagres e de demoras

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Na pescaria de opiniões para a reportagem sobre os três primeiros meses do governo FHC, que se publica páginas adiante, fui surpreendido por uma opinião do deputado José Fortunatti (PT-RS).
"Não dá para exigir milagres de um governo em três meses de gestão", dizia o deputado. É claro que ele também fez críticas ao governo, como se verá no texto correspondente, mas, de todo modo, eu esperava apenas as críticas, não a observação acauteladora.
Ela coincide, de alguma forma, com a avaliação que se faz no coração do governo sobre o seu primeiro trimestre. O fato de o país ter se habituado ao espetáculo, em governos anteriores, ajuda a desgastar um governo decidido a fazer as coisas sem sobressaltos, imagina-se entre os íntimos do presidente.
É verdade que a mudança da banda cambial acabou sendo um espetáculo, nem tanto pelo fato de ter havido a alteração em si mas pela implementação desastrada.
Mas, no restante de sua ação, o governo move-se dentro do figurino condensado na palavra "processo" -um passo de cada vez e cada um deles na hora certa.
Se fosse sempre assim, Fortunatti teria razão em conceder ao governo o benefício de um prazo maior de carência. Mas, no caso específico da balança comercial, o governo atrasou-se na escolha da hora de agir.
Vejamos: a crise mexicana explodiu dia 20 de dezembro, 11 dias, portanto, antes da posse de FHC. Mal ele tomou posse, já se anunciou que a balança comercial de dezembro fora deficitária, no segundo rombo consecutivo. Em janeiro, veio o terceiro déficit.
À essa altura, já se podia dispor também de uma avaliação consistente sobre a fuga de capitais especulativos, iniciada com a crise mexicana. Estavam dados, pois, todos os elementos para atuar em defesa da balança comercial.
Por quê, então, esperar até o fim de março para fazê-lo? Ainda mais que o próprio governo garante que elevar as alíquotas do Imposto de Importação para cerca de cem itens não causa incidência maior sobre a inflação nem afeta o que conta de fato nas compras externas, que são bens de capital.

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