São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Audácia Charme Malvadeza

COSETTE ALVES

(continuação)
A Justiça
-Qual o problema com o Poder Judiciário?
-Em toda parte há juízes dignos e outros que não são. Mas há grande número de injustiçados na Justiça. Tive manifestações de apoio do país inteiro, por apontar casos que têm tramitação difícil na Justiça, de mais de 20 anos em processo, sem que tenha qualquer solução em causas até simples. Tudo isso por força de processos anacrônicos no Judiciário, por causa das chamadas "chicanas" na Justiça. É terrível.
-O pobre não tem direito sequer a ter defesa e a Justiça não existe para quem não tem recursos. Chamei atenção para isso, mostrei casos de juízes da Corte Suprema que levam até quatro anos com agravos para decidir, quando sua obrigação era trazer da sessão imediata o seu pedido de vistas, ou seja, sete dias depois. Isso se multiplica nos tribunais do Brasil. O juiz corrupto não é posto para fora da Justiça, mas aposentado com todas as vantagens. É praticamente um prêmio. Ora, em qualquer outro lugar, a punição existe. Até mesmo na Câmara os anões foram postos para fora. E no Executivo, quantos pobres são demitidos porque roubaram gasolina?
-Na véspera de minha saída do governo fui soltar os pobres ladrõezinhos de galinha. Fui criticado. Não fiz aquilo como acinte à Justiça, foi um gesto simbólico, uma demonstração de que os pobres não têm direito a ficar presos quando os ricos ladrões estão soltos. A Justiça precisa tomar novos rumos.
-A Ordem dos Advogados também não pode falar, porque fez um estatuto corporativista, cheio de vantagens pessoais, de imunidades para advogados. Os advogados bons estão contra aquele estatuto, mas a Ordem fracassou na sua missão de fiscalizadora da Justiça e dos próprios advogados.

A política
-Há uma tensão entre Executivo e Legislativo?
-Não. Outro dia, o ex-presidente José Sarney até ficou zangado na reunião em que estava com o Fernando Henrique. Mas eu fiz esse elogio ao Fernando Henrique. Ninguém neste país com menos de 90 dias de Presidência conversou mais com a classe política e os segmentos da sociedade do que o presidente Fernando Henrique. Ele tem tido paciência enorme para buscar os consensos. Até acho que essa demora é prejudicial. Muitas vezes, o consenso não é a melhor solução, o país perde. Às vezes é melhor a disputa para se ter a solução mais correta.
-E o vazamento de informações do Banco Central no momento do ajuste cambial, como analisa o episódio?
-Quem diz que vazou tem o dever de dizer de onde vazou. Fora daí é leviandade. Mas também acho que o BC -que fiscaliza todos os bancos, pode condenar, absolver e ajudar bancos- não pode ser dirigido por pessoas que, depois, vão atuar nos bancos. É eticamente condenável e quem participou do BC não deve voltar para estabelecimentos privados.
-O que pensa do limite de juros de 12%?
-Vários senadores meus amigos votaram a favor dessa lei complementar. Acho um erro, só não digo que é ridículo para que não se ofendam. Nenhum país do mundo tem juros tão altos. Mas o Brasil é o único país que tabela juros através de lei ou em Constituição. Acredito que a Câmara corrigirá esse erro.
-O senhor é a favor do aumento do salário mínimo?
Sou. Primeiro, porque acho que o governo pode pagar, ao contrário do que disseram. Segundo, porque ele vai ter que pagar. Disse ao presidente que ele teria desgaste ao dizer não. E agora ele vai pagar mesmo, dia 1º de maio. E terceiro: quando um país não pode pagar cem reais a um trabalhador, evidentemente não tem condições de ser país.
-O que acha da reforma da Previdência e da estabilidade dos funcionários?
-A estabilidade é um perigo. Toda pessoa estável tem tendência a não cumprir bem seus deveres. Quanto à aposentadoria, acho que, em se respeitando os direitos adquiridos, não deve haver aposentadoria especial para ninguém, e deve ser pela idade.

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