São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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TIMBALADA; COQUINHO; REDE; PIMENTA; TODOS OS SANTOS; VATAPÁ; PATRIMÔNIO

TIMBALADA
Nome: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães ("não gosto do Peixoto")
Data e local de nascimento: 4.set.1927, Salvador
Apelidos: "Toninho, Toinho. Os meus inimigos botaram ultimamente Toninho Malvadeza, os meus amigos botaram Toninho Ternura"
Nome do pai e da mãe: Francisco Peixoto de Magalhães Neto e Helena Celestina de Magalhães
Irmãos: José Maria Peixoto de Magalhães Neto, Angelo Mário Peixoto de Magalhães e Jaime Daniel Peixoto de Magalhães
Mulher: Arlete Marlon de Magalhães
Filhos: Elisa Helena Marta Pires, Marlon Marta Pires, Luis Antonio Carlos Magalhães Júnior e Luis Eduardo Marlon de Magalhães. "E tinha minha filha Ana Lúcia Marlon de Magalhães, que faleceu"
Signo: virgem
Religião: católica
Altura e peso: 1,71 m e 92 kg
Formação: "Sou médico, mas costumo dizer que sou bacharel em medicina e jornalista profissional, mas não formado"
Cor preferida: "Vermelho, azul e branco, as cores da Bahia"

COQUINHO
Um pouco da infância: "Meu pai era deputado federal. Nasci e fui criado como menino pobre. Estudei em colégio público e convivia com todas as pessoas, não só ricos como pobres. Tinha amigos de toda sorte. Fui amigo de Tião Macalé, que morava em frente à minha casa. Fui amigo também das pessoas mais ricas da Bahia. Tratava todos da mesma maneira, desde cedo. Era uma vida apertada, mas sem privações. Nunca me faltou comida em casa, nunca me faltou um livro, nunca tive algumas coisas que os mais abonados tinham. Não tive automóvel quando rapaz, só quando já era homem formado. Sempre tive uma vida muito regrada, mas nunca precisei ir trabalhar em balcão, levar encomenda, nada disso. Tive vida normal, mas sempre dentro de um orçamento comedido, mesada muito reduzida"
Era criança extrovertida ou introvertida? "Variava. Muito sentimental, ainda sou hoje, ao contrário do que dizem. Choro fácil, tenho muito sentimento e perdi minha mãe muito cedo"
Como era sua mãe? "Tinha, talvez, o meu gênio. Meu pai era mais calmo e minha mãe, mais energética. Tenho a energia da minha mãe"
Quantos anos tinha quando ela morreu? "Tinha 7 anos, morava no Rio. Minha mãe morreu devido a uma infecção hospitalar. Naquele tempo, não havia antibióticos. Voltamos para a Bahia e fiquei muito tempo sendo criado com vovó. Meu pai mais distante, no Rio de Janeiro. Isso me deu oportunidade de ter uma vida mais livre. E também uma educação menos aprimorada. Estudei em colégio público. Meu pai era professor catedrático da faculdade de medicina, o que me induziu a ir pela medicina. Talvez minha vocação fosse Direito. Fiz Direito e medicina. Daí, eu dizer que sou bacharel em medicina"
Seu pai era uma pessoa presente na sua vida? "Era muito presente, um homem de muito valor. Um grande intelectual, um dos maiores intelectuais da Bahia em todos os tempos. Uma alta cultura e um bom exemplo de moralidade"
Brincadeira preferida na infância: "Futebol. Jogo até hoje, mas com bola de pano"

REDE
O que é a política? "É trabalho e é verdade. A coisa mais fácil na política é falar a verdade. Os políticos, quando falam a verdade, chegam mais perto do seu povo. E o povo gosta dos que falam a verdade, porque se diferenciam dos outros. O povo sabe, sente. Então, minha situação na Bahia é essa. Eu falo a verdade, tenho um bom contato com o povo, só vivo com meu povo. Na Bahia, tem uma coisa que todos reconhecem em mim, até meus mais ferrenhos inimigos. Sou o sujeito que mais ama a minha terra"
Se não fosse político, o que gostaria de ter sido? "Fiz política a vida inteira. Mas quando vejo, como ontem, um grande regente de orquestra, fico com uma inveja maravilhosa, talvez porque minha atividade política seja de liderança. Vi ontem o Karajan. Gosto muito de música"
Por que decidiu ser político? "Desde cedo, eu faço política. Meu pai foi político, mas um político mais de elite. Ele era um intelectual que foi levado à política e teve êxito por ser um intelectual. Eu, desde estudante, 10, 11 anos, na época da Segunda Guerra Mundial, fazia os maiores movimentos pela guerra contra o nazismo. Apanhei muito na rua da polícia. No colégio, na Bahia, disputei o Grêmio com alguém que é muito meu amigo hoje. Naquele tempo era esquerdista, hoje é capitalista, é o Boris Tabacow. Eu o derrotei. Do ginásio da Bahia, fui para a faculdade. Não fui o melhor aluno, mas fui o melhor em matéria de vencer os pleitos acadêmicos"
Relação com o poder: "Não uso o poder e nem sou escravo dele. O poder é uma coisa que, se você sabe que tem, deve usar em benefício de uma coletividade, de um Estado, de um país. E você tem vaidade quando realiza coisas. Quando vê uma obra que todos exaltam, é o maior estímulo para fazer outra. Quem disser o contrário não está sendo verdadeiro, porque isso é da criatura humana. Eu sou humano, tenho a minha vaidade. E o poder satisfaz vaidades"

PIMENTA
Tem medos? "Particularmente, não. Toda pessoa deve ter algum medo. Eu devo ter, mas não está visível"
Um grande arrependimento: "Tenho e guardo comigo"
Como lida com rivalidades e inveja? Sente-se amedrontado às vezes? "Ninguém me amedronta, ninguém me acua. A coisa que eu mais gosto é quando alguém tenta me amedrontar. Porque tenho muita coragem para enfrentar, e aí eu cresço muito"
O que mais gosta e o que mais detesta nas pessoas? "O que mais gosto é a lealdade e o que mais detesto, o oposto"
Pode existir amizade duradoura entre políticos? "Não é comum, mas pode"
Quem são Toninho Ternura e Toninho Malvadeza? "Na realidade, um rival meu disse que eu tinha esse apelido quando eu era garoto. Não tinha. Malvadeza eles falam porque eu sempre reajo a agressões. Ou, pelo menos, aquilo que julgo agressão. Às vezes, as pessoas agridem e acham que não é agressão. Só quem recebe sabe. Nunca quem faz, só quem apanha"
E o Ternura? "O Toninho Ternura veio da campanha do Tancredo. Não sei se foi o Tancredo ou outra pessoa qualquer. Foi em virtude da posição que assumi na época. E eu era muito querido nas ruas do Brasil, São Paulo, Rio principalmente. Passei a ser chamado de Toninho Ternura"
O que gostaria que nunca mais lhe perguntassem numa entrevista?
"Se eu lhe disser, vão me perguntar todo dia, portanto não vou lhe responder"

TODOS OS SANTOS
Conte um caso inédito: "Eu sei de tantos casos, fico sem saber se são inéditos, de maneira que não quero lhe enganar. Tive uma vida muito rica, e convivi com muitas pessoas na República. Tenho muito medo de que, no futuro, eu seja malvisto por ter convivido com muitas pessoas e ter tido sempre a gratidão delas. Convivi com o Castelo Branco, mas era amigo íntimo do Juscelino. Fui amigo do Geisel. Figueiredo é uma pessoa de quem eu não guardo saudade e amizade. Fui amigo do presidente Médici, mas sem intimidade. Do Golbery, tenho muita saudade, era um homem muito inteligente, muito agradável. Sarney é meu amigo há quarenta anos. São pessoas que eu convivi, na maior intimidade. Não vou dizer que sou íntimo do Fernando Henrique. Conheci Fernando Henrique recentemente. Hoje nos damos muito bem, mas não tenho intimidade. Acho até que ele tem, com justa razão, mais intimidade com o Luiz Eduardo. Eu tenho muita coisa a contar, mas vou contar tanta coisa que posso passar por mentiroso. Às vezes fico acanhado de contar. Acho que vou esperar o momento certo"

VATAPÁ
É centralizador ou delega? "Delego bastante quando governo"
Distração quando não trabalha: "Quando posso, música. Ouvir futebol. Sei que não vai repercutir bem, mas vejo um pedacinho de novela"
Dorme quantas horas? "Entre seis e sete. Quando durmo menos, não gosto"
Saudade de Salvador? "Aqui em Brasília, trabalho muito e o trabalho distrai. Mas, sempre que posso, fim-de-semana, é na Bahia"
Decide mais com a cabeça ou o coração? "A intuição e a lógica se combinam na hora. Você só resolve bem as coisas do ponto de vista político quando também põe um pouco do coração"

PATRIMÔNIO
O senhor notou mudanças importantes em si mesmo nos últimos dez anos?
"Toda pessoa que chega perto da morte muda um pouco. Eu mudei. Foi em 1989. Mas me senti muito tranquilo. O professor Jatene disse que fui a pessoa mais corajosa que já chegou ao Incor"
Momento profissional marcante: "Quando fui prefeito de Salvador (1967, 1968)"
Momento mais feliz: "Quando recebi aplauso no teatro Castro Alves por cinco minutos, em 29 de março de 1969. Era prefeito de Salvador"
Momento mais infeliz: "Quando morreu minha filha"
Acredita em Deus? "Acredito"
Qual o político vivo brasileiro que mais admira? "O que mais estou admirando sou suspeito para dizer, porque ele é muito jovem. Fica implícito. Morto, Juscelino"
É impetuoso? "Tenho um grande amigo, que é o Elio Gaspari. Ele diz que, nas horas mais difíceis da vida, nunca perdi o poder de decisão"

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