São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Audácia Charme Malvadeza

COSETTE ALVES

Em entrevista exclusiva, o senador baiano pelo PFL Antonio Carlos Magalhães, 67, roda a peixeira. Para ACM, no Brasil quem tem advogado bom não vai preso, pobre não tem direito a defesa -embora pague mais impostos- e juízes corruptos não são punidos, mas premiados. O homem mais poderoso do Congresso acredita que empreiteiro é igual em toda parte ("se encontra como roubar, ele vai roubar"), cobra mais determinação do presidente Fernando Henrique e lamenta que sua imagem no Sul não seja como a que tem na Bahia:
"Não me conhecem"

Hesitei muito antes de entrevistar o senador Antonio Carlos Magalhães. Tinha à minha disposição um vasto material de pesquisa, mas estava empacada. Antes de desistir, resolvi me perguntar, entrevistar a mim mesma sobre o porquê de tantas dificuldades:
Por que esse receio de entrevistar o senador Antonio Carlos Magalhães?
Porque tenho um lado malvadeza que gostaria de fazer uma entrevista extravagante e malvada, e um lado ternura, que sente que isso seria um desserviço ao meu personagem, que pode ser fascinante para o leitor e para mim mesma.
O que você mais detesta na elite brasileira, da qual Antonio Carlos Magalhães é um representante?
O maniqueísmo!
Encontrei as respostas que me levaram a entrevistar ACM.
Brasília, 9h30, primeiro dia de outono. Saí do elevador e o enxerguei na porta já aberta, me esperando. Terno xadrez miúdo, camisa clara, gravada listrada azul e vermelha e um sorriso discreto. Sentamo-nos em torno de uma mesa e após um bom-dia rápido começamos a falar. Antonio Carlos olhava bastante para a janela, para o horizonte. Meio desconfiado, parece estar vendo mil coisas ao mesmo tempo. Olhos com expressão de tristeza e sabedoria.
Mãos pequenas. Meu pai sempre dizia que os homens de mãos pequenas têm inteligência acima da média. É simpático.
Cabelos brancos emolduram um rosto jovem. Demonstra impressionante vitalidade. É direto, não titubeia. Surpreendi-me com suas respostas rápidas e tranquilas. Sensível, ao perceber minha surpresa disse: "Quem não estiver com disposição de ser sincero, não deve dar entrevistas". Depois de uma longa conversa, senti que o senador tem duas grandes paixões às quais tem dedicado sua vida: o Brasil e a Bahia. E o que vem depois, vem depois mesmo.
(continua)

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