São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Audácia Charme Malvadeza

COSETTE ALVES

(continuação)
Confidencial
- Como analisa o governo FHC?
- Se na vida a gente dá entrevista é prar dizer a verdade, ou então não se dá. Dada a força com que FHC chegou eleito no primeiro turno, eu esperava que, entre eleição e posse, preparasse algumas medidas e começasse o governo executando essas medidas. Isso não ocorreu, porque esse período ficou para a formação do ministério, que deu mais trabalho do que deveria. O governo poderia ter estado mais pronto quando começou. Outra coisa é que o governo está cuidando da inflação e tendo êxito notável com o Plano Real. Mas tem que pensar em outras medidas.
-O que acha da atual equipe econômica?
-O ministério econômico é bom. O Pedro Malan é boa figura, foi grande negociador da dívida, é homem sério. Não há dúvida de que o José Serra é da maior competência. Eu gosto muito dele. Agora, o Pérsio Arida é homem muito inteligente, mas o Banco Central precisa ter relacionamento mais independente com as instituições privadas bancárias. Não posso dizer bem nem mal do senhor Paulo César Ximenes, porque não tenho intimidade com ele. Mas todos fazem parte de um grupo. Saem e entram, são os mesmos. Só reclamam da política. Eu vou pelo voto. Os economistas vão porque são camaradas uns dos outros.
-O ministro Jatene disse ser contra a presença de investimento estrangeiro em hospitais. E reclama da pouca verba para a saúde no governo Fernando Henrique. O que acha disso?
-Para mim, acima do ministro Jatene só tem Deus. Eu estou fazendo entrevista com você por causa dele. E, coincidentemente, hoje faz seis anos que ele me operou. Eu não discuto as opiniões do professor Jatene. Sou seu admirador perpétuo.
-É possível o senhor traçar um perfil do presidente Fernando Henrique Cardoso?
-É um homem inteligente. Quando começou a campanha, eu fui até muito atacado, porque queria mudar a linguagem do presidente. Ele falava como os outros falavam.
-Quando era candidato, Fernando Henrique ouvia e adaptava a linguagem de comício com uma rapidez e uma competência raras e fazia discursos altamente capazes, às vezes melhor do que nós. Foi excelente candidato.
-Agora, é presidente, gosta do poder, tem que exercer o poder com o mesmo gosto que tem pela liturgia do cargo. Ele criou uma máquina para melhorar o funcionamento do governo, que está emperrada. E na medida em que faça essa máquina funcionar, vai tomar decisões mais apressadas.
-Esse problema que houve no Rio e os outros por aí. Ele devia ter aproveitado para mostrar que esses baderneiros querem atrapalhar as reformas, mas que mesmo com os baderneiros ele vai fazer a reforma, porque a reforma é que vai impedir a baderna e vai criar as condições de riqueza para o país.
-Ele quer jogar o passado dele. Não é um passado brilhante, ele foi para o exílio e tudo isso. Não porque isso é uma coisa boa, mas o passado teórico dele já está indo para o lixo.
Todos já gongaram, as pessoas nas quais ele se baseava. Elas já não têm mais essa teoria, porque ele vai ter? Então, jogando isso fora, ele tem que entrar na prática do que é certo no mundo inteiro e fazer a política que o país precisa. E aí ele vai ter uma outra dimensão como homem público e, quem sabe, pode até ser reeleito presidente.
-O senhor é a favor da reeleição? Ela passa ou não?
-Eu sou a favor. Pode passar ou não. Mas um dia ela vai ter que passar, então que passe logo.
-O que o senhor gostaria que eu lhe perguntasse numa entrevista?
-Por que a minha imagem no Sul é tão diferente da Bahia? Eu lhe responderia: porque não me conhecem. Os do Sul que vão à Bahia mudam de opinião. Porque me têm como um político truculento, um político de violência, um político que não cuida dos interesses do Estado, que só faz política. Eu sou administrador, mais do que político. A minha força política na Bahia advém da minha administração e não da política. No Sul, me têm como a raposa. É uma visão errada. Eu estou há muito tempo na política porque sou bom administrador. Como político, sou o único malsinado. Fico triste com isso.
(continua)

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