São Paulo, quinta-feira, 6 de abril de 1995
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O jantar da classe de 98

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Vão negar, vão dizer que é especulação, o diabo. Mas o jantar que o PFL ofereceu anteontem ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, é o primeiro lance concreto, ainda que sutil, da pré-campanha presidencial de 1998.
O teorema é o seguinte:
1) Há, na coligação governista, pelo menos três candidatos a candidatos à Presidência, todos obviamente não-declarados. Um é o ministro do Planejamento, José Serra (PSDB). O outro é Luís Eduardo Magalhães (PFL), presidente da Câmara. O terceiro é José Eduardo de Andrade Vieira (PTB), ministro da Agricultura.
2) Nesta fase, tão prematura, não se trata propriamente de fincar estacas a favor da candidatura de quem quer que seja, mas de evitar que os presumíveis adversários cordiais se fortaleçam. Ou, pelo menos, que se fortaleçam demais a ponto de se tornar, qualquer um deles, imbatível como candidato a candidato.
3) José Serra, pela posição que ocupa e pelo apetite que sempre teve, é o mais forte candidato a ficar mais forte ainda. Basta, por exemplo, que a estabilização da economia se mantenha até a hora em que os partidos estiverem na fase de definição de candidaturas.
4) Se Pedro Malan, que não tem vocação alguma para a política partidário-eleitoral, se enfraquecer demais, a hipótese mais provável é a de que Serra acabe por assumir, formal ou informalmente, o posto de superministro da área econômica.
5) Nessa hipótese, perdem seus adversários ainda enrustidos na pré-campanha presidencial. Pode ser também que Serra, a médio prazo, venha igualmente a perder com uma eventual superexposição, se a economia desandar. Mas essa é uma aposta que nenhum partido governista pode fazer, porque todos, como é óbvio, sairão mais ou menos chamuscados.
6) Dar um tônico para Malan, portanto, é a maneira indireta de evitar um eventual crescimento de Serra em detrimento, no caso do PFL, de Luís Eduardo.
É claro que todo esse teorema parte do pressuposto de que não passará a emenda que permite a reeleição de FHC. É também óbvio que o xadrez sucessório não era o prato único do jantar. Mas que pairava sobre ele, ninguém se iluda.

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