São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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FHC vê incompetência e traição de aliados

JOSIAS DE SOUZA; DANIEL BRAMATTI

Derrota no Congresso acontece após duas semanas de intensos contatos do presidente com parlamentares
JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
Em avaliação feita com seus auxiliares mais diretos, o presidente Fernando Henrique Cardoso concluiu que duas causas levaram o governo a ser derrotado pela bancada ruralista no Congresso: a incompetência de seus líderes na Câmara e no Senado e a traição de supostos aliados.
A conclusão do Planalto baseia-se nas evidências. A primeira: um simples recurso de um de seus líderes teria barrado a votação.
A outra: com 140 integrantes, no máximo, a bancada ruralista sozinha não teria forças para impor a sua vontade. Beneficiou-se das traições, perpetradas sob a sombra do voto secreto.
Um dos aliados mais bombardeados no Palácio do Planalto é José Aníbal (SP), líder do PSDB na Câmara. Fernando Henrique soube da má notícia pelo telefone, na manhã de quinta-feira.
"Presidente, aconteceu uma coisa muito séria aqui", disse-lhe o deputado Germano Rigotto (PMDB-RS), líder do governo no Congresso.
FHC estava em seu gabinete, no Palácio do Planalto. No momento em que discou para Rigotto, não esperava ouvir frase tão carregada.
Desde sua posse, em janeiro, o presidente nunca tivera uma semana de contatos tão intensos com congressistas. Participara de dois jantares e de um almoço com parlamentares.
Concordara em ser o anfitrião de uma partida de futebol, na Granja do Torto, entre "jogadores" do Executivo e do Legislativo. A partida está marcada para amanhã.
"O que houve?", cobrou de Rigotto. Soube, então, que, na noite da véspera, o Congresso eliminara a cobrança de TR (Taxa Referencial, um indicador de juros) sobre empréstimos agrícolas.
A bancada ruralista restituiu uma regra que, ao tempo em que era ministro da Fazenda, ele próprio havia recomendado ao antecessor, Itamar Franco, que vetasse.
Fernando Henrique reagiu com espanto: "Como é que pode acontecer uma coisa dessas?"
Simples. Escalado para apresentar um requerimento à mesa do Congresso pedindo que o veto de Itamar não fosse analisado na noite de quarta-feira, o líder José Aníbal cumpriu o seu papel quase à risca.
Aníbal chegou mesmo a entregar o ofício à mesa. Mas, pressionado por integrantes da bancada ruralista, retirou o pedido, liberando a direção do Congresso para prosseguir com a votação.
Rigotto não estava em plenário. Havia combinado a estratégia com Aníbal e, tranquilo, cuidava de outros afazeres em seu gabinete. Avisado do inesperado recuo de Aníbal, correu para o local.
Cobrou uma explicação do aliado. Aníbal disse ter cedido ao argumento dos ruralistas de que, ao vetar a queda da TR para os financiamentos rurais, Itamar havia ferido um acordo selado no Congresso na legislatura passada.
Apontado como fiador do acordo, o deputado Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), líder do governo na Câmara, também não estava em plenário. Rigoto entrou então com um segundo pedido de retirada do veto da pauta de votações. Como a votação já havia começado, teve o pedido negado.
Nos bastidores, Luiz Carlos Santos confirma que, ao vetar a regra agora ressuscitada, Itamar rompeu um acordo firmado com a bancada ruralista.
O economista Edmar Bacha, então assessor especial da Fazenda, teria participado da reunião em que foi firmado o compromisso.
José Aníbal alega que pediu o adiamento da votação sem saber de que assunto se tratava. "O Rigotto apenas pediu que se votasse em uma próxima sessão o item 22 da pauta. Quando encaminhei o adiamento, os ruralistas me cercaram e disseram que havia um acordo em torno do assunto".

Colaborou DANIEL BRAMATTI, da Sucursal de Brasília

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