São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Onze a dois

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Onze policiais e dois manifestantes feridos, que foi o saldo apresentado ontem pela televisão, não é um saldo comum de manifestações de rua.
Também a diferença entre o número de policiais, menos de 400, e o de manifestantes, mais de 3.000.
Também o apedrejamento do presidente.
Foi uma "manifestação armada", segundo o âncora do TJ, e mais, com manifestantes dispostos a "chegar ao confronto".
Semanas atrás, em protesto semelhante no Rio, Vicentinho ainda conseguiu jogar a responsabilidade sobre outros partidos abrigados na CUT.
Desta vez, é a CUT por inteiro. E com disposição para bater.

Mérito
Não fosse a ironia das manchetes e o sorriso dos apresentadores, Wagner Canhedo teria surgido da cobertura de ontem como uma vítima de perseguição.
Ele não só recebeu a medalha do mérito judiciário militar, como pagou por uma longa nota de defesa, no horário nobre da televisão.
Uma nota em que é descrito como "um homem que, com seu trabalho e investimento, vem restaurando a Vasp, resgatando as dívidas do período anterior à privatização e garantindo milhares de empregos, além de ter feito cessar os prejuízos que a empresas causava aos contribuintes paulistas".
Quer dizer, deve ao Banespa, uma estatal dos "contribuintes paulistas", mas isso é compensado porque comprou a Vasp, que era estatal e agora não dá mais prejuízos aos "contribuintes paulistas".
Mas a privatização não desculpa tudo e qualquer coisa, daí as manchetes e os sorrisos de sarcasmo. Por exemplo, "libertado ontem, Wagner Canhedo recebe hoje medalha do Superior Tribunal Militar".
Em cada frase, sublinhou-se a coincidência entre a prisão e a condecoração. Na própria cerimônia, aliás. Segundo a CBN, "na chegada, Wagner Canhedo foi muito cumprimentado e recebeu solidariedade dos militares".
Um deles, da Aeronáutica, teria exclamado, ao encontrar o empresário:
- Deus existe!

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