São Paulo, sábado, 8 de abril de 1995
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Masp expõe 60 fotos de Mário Cravo Neto

ANA MARIA GUARIGLIA
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

A exposição do fotógrafo Mário Cravo Neto inaugurada na quarta-feira passada em Salvador será apresentada em São Paulo, no Masp (Museu de Arte de São Paulo), a partir do próximo dia 17.
Ao todo, são 60 fotos em preto-e-branco de um metro por um metro que praticamente encerram uma série que o artista começou a criar em 1975.
Nessa época, depois de um acidente, Cravo, 47, ficou sem poder locomover-se e passou a construir imagens que, no início, surgiam de sonhos e do seu imaginário infantil.
A partir de 1978, ele começou a retratar o homem baiano, associando-o às raízes culturais e às inquietações étnicas e religiosas.
O projeto foi delineado em seu estúdio, onde foi criando uma intimidade cada vez maior com o tema e com seus modelos, quase sempre pessoas caracterizadas pela simplicidade.
Sempre fotografando em planos muito próximos, Cravo concretizou as imagens no papel, captando os detalhes do corpo humano nos gestos, nos movimentos e nas expressões.
No conjunto das obras, chama a atenção o privilégio que o artista dá às formas e às texturas. Elas são metodicamente esculpidas e dimensionadas através do posicionamento de cada ponto de luz.
Para instigar a imaginação, Cravo adiciona elementos aos detalhes do corpo, que se traçam como apoio estético.
São bolas, pedras e animais que concedem à composição uma diversidade de significados.
Em algumas obras, estão explícitas a mística do culto afro-brasileiro e, em outras, a transformação cultural do negro e a preservação de sua identidade.
A coleção de fotos do negro salpicado de cal, segundo o fotógrafo, representa a força do trabalho do homem baiano, trazida à lembrança pelas reminiscências de sua infância.
Cravo afirma que foi sugado pela obra fotográfica durante quase 15 anos, sem, no entanto, deixar de lado o ideal plástico, que orientou seus trabalhos como escultor e que lhe valeram uma participação na Bienal de São Paulo na década de 70.
Segundo Cravo, uma de suas maiores influências foi a obra do fotógrafo e etnólogo Pierre Verger, considerado um mago da fotografia brasileira.
Nos anos 40, o francês Verger documentou o cotidiano do homem e da vida na Bahia, a natureza e os animais, focalizando seu interesse nas comunidades em via de desaparecimento.
"Verger me inspira com sua paciência e acuidade e, apesar de ser visto como um documentarista, suas imagens são obras raras de arte", diz o fotógrafo.
O próximo empreendimento de Mário Cravo Neto já está pronto e traz praticamente os mesmos problemas apresentados pelo tema anterior.
O elemento principal do projeto é a expressão do corpo, mas o pano de fundo não é mais o estúdio e a luz artificial.
Nessa série de fotos, Cravo se expressa livremente, utilizando a iluminação natural e tendo como cenário a cidade, as igrejas, as ruas e o mar.
O novo trabalho deverá ser editado na Suíça e, segundo o autor, o título poderá ser "Carnation", que na língua inglesa significa "Cravo".
Durante a exposição no Masp, incluída na série de eventos fotográficos do NaFoto (Núcleo dos Amigos da Fotografia), será lançado o catálogo com 30 obras do artista.
A mostra fica em SP até 17 de maio e, a partir de 17 de junho, estará no Museu de Arte Moderna, em Salvador (BA).

A jornalista ANA MARIA GUARIGLIA viajou à Bahia a convite de Andréa Velame e da Construtora Andrade Gutierrez

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