São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995 |
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Uma desforra em forma de memórias
JOAQUIM MANUEL DE MACEDO "(...) Desçam porém ao âmago das cousas que não hão de achar contradição: o assunto de todas memórias é sem dúvida e sempre a desarrumação do passado; mas o seu motivo, como o de todos os escritos e livros, é o gozo do presente, é a satisfação da vaidade do autor: até nas próprias Memórias de Além-túmulo o homem, furioso por não poder escapar à morte, goza, escrevendo-as, a consolação sui-generis de preparar um logro à morte, revivendo e imortalizando-se nos aplausos e na admiração que a sua obra deve excitar.Todavia cumpre-me declarar que nenhuma destas considerações influiu no meu ânimo, provocando-me a escrever. As minhas Memórias são nada mais e nada menos do que uma desforra e um castigo. Eu conto a história com todos os seus pontos e vírgulas em um ou dois períodos do tamanho de todo o trabalho de própria lavra que certos ministros à moderna têm nos relatórios que assinam e apresentam. Liguei-me (liguei-me é exatamente o verbo apropriado) há poucos meses, a um círculo, digo mal, a um arco do círculo influente da situação política: escolhi o arco, onde se envergavam os homens mais notáveis da minha escola filosófica; fiz com eles comércio de amizade, e prestei-lhes relevantes serviços sob a condição de adotarem a minha candidatura a deputado da assembléia geral legislativa por qualquer distrito de qualquer das províncias do Império. Firmou-se o contrato bilateral com juramento: quem não assinou o contrato, foi o povo que me devia eleger; isso porém não me preocupou; porque o povo só por exceção elege aqui ou ali alguns deputados. Pois bem! acaba-me de falar em nome das urnas, acaba-se de se publicar os despachos eleitorais, e fiquei logrado!... Trecho extraído de "Memórias do Sobrinho de meu Tio, editado por Flora Sussekind Texto Anterior: A OBRA Próximo Texto: O padre e sua fábrica de carapuças Índice |
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