São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995 |
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O padre e sua fábrica de carapuças
AUGUSTO MASSI
O historiador Evaldo Cabral de Mello Neto, 59, responsável pela introdução e notas desta edição, que ainda está sendo preparada, afirma que o Padre Carapuceiro foi um grande "crítico de costumes, analista social, um retratista dos hábitos da sociedade de sua época. Nada escapava aos olhos do Padre Carapuceiro". Desde o seu primeiro número o jornal "O Carapuceiro" trazia estampado no frontispício: "periódico sempre moral e só per acidens político". O Padre transformou a leitura de seu jornal numa espécie de bíblia coletiva, era o púlpito de onde proferia seus sermões e versava sobre os mais variados assuntos: dos namoros ao comportamento do clero, das intrigas políticas a educação dos meninos, das constipações e indigestões aos sorvetes e às feijoadas. O "Carapuceiro", apesar de sofrer algumas interrupções, chegou a circular regularmente duas vezes por semana, entre 1837 e 1843, sendo fiel ao mesmo princípio: "Façam de conta que, assim como há lojas de chapéus, o meu periódico é uma fábrica de carapuças". Ou ainda: "Mais vale tarde que nunca. Até aqui vendi carapuças a retalho, ora aqui, ora ali, ora acolá. Agora estou de loja aberta; e tenho carapuças de todos os tamanhos e para toda casta de cabeça. Cheguem fregueses, cheguem." Muito embora, por vezes, o tom adotado pelo Padre Carapuceiro esteja próximo da sátira, as suas reflexões oscilam entre a crônica de costumes e a crítica social. É neste segundo registro que encontramos algumas páginas em que versa sobre a questão dos escravos, sobre a gente da justiça, sobre a vadiagem. O jornal fechou suas portas em setembro de 1847, quando o Padre Miguel do Sacramento Lopes Gama foi nomeado diretor do Curso Jurídico de Olinda. O Padre Carapuceiro, que dizia "o meu gênio é um pouco jovial" só aceitou vestir a sua carapuça quando a morte o apanhou, a 9 de maio de 1852. (AM) Texto Anterior: Uma desforra em forma de memórias Próximo Texto: A OBRA Índice |
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