São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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O glamour é vermelho

Mais provocativa foi a revista inglesa "The Face". Em setembro, suas fotos de moda eram de trajes criados a partir de um colete à prova de balas. O trabalho, do fotógrafo francês Jean-Baptiste Mondino, inchou a seção de cartas. Os protestos foram publicados na edição de outubro, a mesma que trouxe foto de Tarantino -com poça de líquido vermelho aos pés.
Na sequência do tiroteio, Mondino voltou a alvejar os leitores ofendidos: fotografou um casal de modelos devidamente ensanguentados.
A moda vai de violência glamourizada e a mulher cai no crime, não mais na base de coadjuvante seduzida e usada. A criatura sensível que fecha os olhos na hora da carnificina, na platéia do cinema, convive com as projeções de outro estereótipo. O da sex-symbol pós-feminista e fálica. Amiga de "Thelma e Louise", ela não tem mais cara de vítima e aponta uma arma.
Como a modelo e atriz Isabella Rossellini, que ao participar do desfile da grife italiana Bluemarine em março, em Milão, tirou um revólver de dentro da bolsa, devolvendo o sentido literal à puída expressão "vestida para matar".
Na mesma temporada, o estilista francês Thierry Mugler, em Paris, capturou Patty Hearst para modelo. Se alguém esqueceu, é aquela moça sequestrada nos anos 70 pelo Exército Simbionês de Libertação, que passou de refém a terrorista. A ex-incendiária desfilou pedrarias bordadas em forma de chamas. Longe da tela e da passarela, a mulher também muda dentro da marginalidade. A imagem de violência feminina, por tradição, é ligada a crimes invisíveis, fraudes, manipulações, explica a antropóloga Marina de Macedo Soares, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP: "É a enfermeira que rouba bebês, ou a que furta sem ninguém ver", exemplifica.
Agora, segundo sua tese, "a mulher está saindo desses domínios originais e partindo para a violência objetiva. Ao fazer isso, ela confunde as categorias de delitos. Ao assumir a violência explícita, aquela do revólver e da mão na cabeça, ela entra no domínio masculino e desorganiza o mundo da criminalidade, parecendo mais perigosa do que o homem."

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