São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Baiano é a mãe

CARLOS SARLI

Usar a procedência dos nascidos na terra do acarajé de forma pejorativa é hábito dos paulistanos. O "baiano" é responsável por um bocado de coisa errada aos olhos dos nascidos nesta capital. O nordestino só é visto como força de trabalho braçal, que, aos milhares, atropelam a cidade diariamente, a partir da rodoviária do Tietê sabe Deus pra onde.
A origem não precisa necessariamente ser a Bahia. Veio do Norte/Nordeste é baiano. Não obstante certas estatísticas que justificam a conotação depreciativa, tem muito nordestino fazendo nome em e por São Paulo.
Apesar dos depoimentos e fotos datadas de 1938 do santista Osmar Gonçalves, o primeiro surfista brasileiro, ninguém discute que o berço do surfe nacional foi o Rio de Janeiro. Depois, a força da grana deslocou o eixo para cá, impulsionado principalmente pelas confecções de surfwear. Mais tarde veio a fase Sul, especialmente Santa Catarina, apoiada nas condições favoráveis das praias.
Por último, o surfe ganhou o Nordeste. Mesmo com ondas pequenas, exceção a Noronha e outras raras, alguns dos melhores "big riders" brasileiros vêm de lá. O primeiro campeão mundial brasileiro, o paraibano Fábio Gouveia também. E o número de bons surfistas nordestinos no circuito só vem crescendo.
No último final de semana foi realizado o "Seaway Open de Surf Amador", na Baía de Maracaípe, Pernambuco, a primeira das cinco etapas que irão definir os campeões brasileiros amadores em diversas modalidades.
Sem maiores surpresas, Picuruta venceu no Longboard seu centésimo e não sei quantos títulos.
A cearense Tita Tavares, 19, venceu a atual campeão do mundo, Alessandra Vieira. E Raoni Monteiro, 12, venceu na Iniciantes. Nas duas principais categorias, Open e Júnior (até 18 anos), os vencedores foram do Rio Grande do Norte. Alessandro Melo, 17, e Danilo Costa, 17, ficaram, respectivamente, em 1º e 2º lugares em ambas as disputas. Há um ano Danilo trocou Natal pelo Guarujá. Seu surfe evoluiu e os resultados estão pintando. Seu desempenho nessa primeira etapa do Brasileiro, competindo por São Paulo, foi decisivo para a vitória paulista por equipes. Pernambuco ficou em segundo, seguido por Santa Catarina e Rio de Janeiro.
Há tempos o Nordeste exporta talentos, de Castro Alves a Caetano Veloso, de Danilo Costa ao anônimo ajudante de pedreiro.

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