São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Portadora do vírus HIV diz que vai se matar

ULISSES DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAFELÂNDIA (SP)

Selma Regina de Jesus, 36, portadora do vírus HIV e condenada pela Justiça por manter relação sexual sem avisar seus parceiros, disse ontem que pensa em se matar. "Eu preciso de ajuda e só me dão prisão", disse.
Ela foi presa anteontem em Cafelândia (433 km a noroeste de São Paulo), depois que o lavrador Domingos Rodrigues de Souza, 45, procurou a polícia dizendo ter mantido relação sexual com Selma e que se eles se desentenderam por causa do preço.
Ela estava desaparecida desde fevereiro. Na segunda-feira, o juiz de Paraguaçu Paulista (510 km a oeste de SP), Emilio Gimenez Filho, 40, a condenou a um ano, mas com direito a cumprir a pena em liberdade.
Selma recebeu a Agência Folha ontem na cadeia de Cafelândia. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Agência Folha - Você está sendo novamente acusada de transar sem avisar seus parceiros que é portadora do vírus HIV. Isso é verdade?
Selma Regina de Jesus -Não transei. Ele me ofereceu R$ 20,00 para ter relação sexual. Não aceitei. Não posso ter relação. O máximo que deixei foi fazer umas carícias porque ele me pagou um cachorro-quente.
Agência Folha - Por que ele foi buscar a polícia?
Selma - Estávamos num mato, que não sei onde é. Achei que ele tinha mexido nas minhas coisas (mala, mochila e máquina de escrever) e o acusei. Ele disse que ia buscar o cachorro-quente para mim e trouxe a polícia.
Agência Folha - Você ia viajar?
Selma - Eu estava na rodoviária quando encontrei esse cara. Estava sem dinheiro. Eu queria ir embora porque briguei com o Marcos, meu companheiro. Ele apareceu e eu pedi para me arrumar um lugar para dormir. Fomos beber e depois fomos para o mato.
Agência Folha - Você sabia que havia sido condenada?
Selma - Fiquei sabendo pela televisão, no domingo passado.
Agência Folha - Você pensava em se apresentar?
Selma - Eu pretendia ir para Assis conversar com meu advogado. Queria orientação.
Agência Folha - E agora?
Selma - Tenho vontade de dar um tiro na cabeça. Não sei o que fazer. Estou muito abandonada.
Agência Folha - Você já tentou o suicídio alguma vez?
Selma - Quando eu soube que tinha o vírus, tomei veneno e fiquei três dias em coma.
Agência Folha - Você continua pensando em suicídio?
Selma - O que eu posso fazer? A única coisa que me dão é prisão. Eu preciso de ajuda. E agora quem vai me ajudar?
Agência Folha - O que você achou da sua condenação?
Selma - Achei injusta. Se for assim, o juiz vai ter que condenar todos os aidéticos.

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