São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Cai a atração por "padres de passeata"
FERNANDO MOLICA
João Paulo integra uma geração que desponta como oposta à dos "padres de passeata" -expressão do teatrólogo Nelson Rodrigues (1912-1980) para criticar o engajamento político de religiosos. O seminarista pernambucano prioriza o espiritual em relação ao social e tem como ídolo seu homônimo mais famoso, João Paulo 2º. A mudança no perfil dos seminaristas brasileiros foi detectada em pesquisa, feita em 94 e ainda inédita, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais). Responderam à pesquisa 3.580 dos 5.951 seminaristas maiores (de nível universitário) do país. Ao ser comparada com pesquisa semelhante de 82, revela que caiu pela metade o interesse dos atuais seminaristas para trabalhos com CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), lavradores e posseiros. As CEBs são grupos de católicos que se reúnem para discutir questões religiosas, políticas e sociais. Elas marcaram o trabalho da igreja nos anos 70 e 80. Em ambas as pesquisas foi apresentada uma lista de opções de trabalho que os seminaristas gostariam de exercer depois de ordenados padres. Em 82, o trabalho com as CEBs foi a segunda opção dos seminaristas: estava entre as preferências de 29,7% dos entrevistados. Em 94, a atuação com as CEBs caiu para a sexta posição, com 15,7% das preferências dos seminaristas. A pastoral de terra com lavradores pobres e posseiros era a quinta opção de trabalho (16,5%) dos seminaristas de 82. Esta preferência caiu para o 16º lugar na pesquisa de 94 (7,3% das escolhas). Em 82, entre as seis primeiras opções, três tinham vínculos diretos com a ação social da igreja. Em 94, os cinco trabalhos preferidos pelos seminaristas estão ligados a funções tradicionais dos sacerdotes (vigário de paróquia, pastoral com jovens, atividade missionária, animação litúrgica e formação de seminaristas). A publicação da pesquisa em livro -prevista para até o início de maio- coincidirá com os dez anos da punição do Vaticano (sede da igreja) a Leonardo Boff. Um dos principais teóricos da Teologia da Libertação (corrente que procurava utilizar a Bíblia como base para propostas políticas e sociais de inspiração socialista), Boff, então frei, foi obrigado a ficar em silêncio quase um ano. A punição a Boff (que deixou o sacerdócio em 92) marcou a série de iniciativas do papa João Paulo 2º contra supostos "excessos" da Teologia da Libertação. A publicação da pesquisa coincidirá também com a eleição da nova diretoria da CNBB. O bispo-coadjutor (auxiliar) de Jundiaí (SP), d. Amaury Castanho, lançou para a direção da CNBB uma chapa de bispos "moderados" e "conservadores" encabeçada pelo arcebispo de Salvador (BA), d. Lucas Moreira Neves (derrotado na última disputa). A entidade é presidida por bispos "progressistas" desde a década de 70. Bispos ligados à atual direção, identificada com a Teologia da Libertação, articulam a candidatura de d. Jaime Chemello, de Pelotas (RS), um "progressista moderado". Buscam também fazer do atual presidente da CNBB, d. Luciano Mendes de Almeida, o dirigente máximo do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano). A eleição será em maio, no México. Texto Anterior: Para cardeal, a camisinha "é o mal menor" Próximo Texto: 'O importante é libertar o homem do pecado' Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |