São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Impulsos à globalização financeira

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A globalização dos mercados financeiros tem avançado bastante nos últimos 20 anos. No artigo de hoje vamos enfocar os elementos que têm propulsionado este processo.
Sete fatores têm atuado em conjunto para levar o processo à frente. Primeiro, os mercados financeiros domésticos estão se tornando progressivamente mais internacionalizados e integrados, o que se verifica pelo grande crescimento de fluxos de capitais, tanto intrapaíses industrializados quanto para países em desenvolvimento.
Segundo, o tamanho e a influência dos mercados nas finanças vêm crescendo significativamente em quase todos os países. A renda gerada no mercado financeiro como fração do PIB cresceu de 4,1% em 1950 para 8,9% do PIB em 1990, tomando-se um conjunto de oito dos principais países da OECD ("Boletim Anual do BIS").
Terceiro, observa-se em muitos países uma tendência forte para a dissolução de barreiras funcionais entre atividades bancárias e outras atividades de intermediação. No entanto, países como Estados Unidos e Japão mantêm a separação funcional entre os agentes que atuam nos diferentes segmentos da intermediação financeira.
Quarto, há de se levar em conta o papel desempenhado pela enorme diminuição de custos das comunicações internacionais, que facilita a negociação direta entre credores e devedores. Um dólar de custo de um telefonema internacional de 1945 caiu para menos de um centavo em 1990.
Quinto, verifica-se um crescimento dos instrumentos financeiros e uma maior institucionalização da poupança, devido à expansão dos fundos de seguridade e previdência.
Sexto, a pressão competitiva interna e a desregulamentação das barreiras à intermediação com haveres não-bancários (ações, debêntures, bônus, derivativos) fazem com que o processo continue em expansão.
Sétimo, por fim, a internacionalização requer mais confiança do que os contratos são plenamente ajuizáveis. Isto ocorreu sob a convicção de que o direito internacional ampliou sua área de validade (com o policiamento último sendo feito pela "pax" americana).
A tabela acima, sobre a intermediação financeira nos Estados Unidos, serve como exemplo da maior pressão competitiva e da institucionalização crescente da poupança. Os bancos e as seguradoras detinham 76,4% de todos os ativos financeiros em 1950, mas somente 40,7% em 1993. Já a fração de mercado dos fundos de pensão, fundos mútuos e outros tipos de agentes não-bancários cresceu de 9,8% em 1950 para 50,6% em 1993.
O crescimento nominal dos ativos financeiros americanos reportados na tabela foi de 9,6% ao ano (a inflação média foi de 3% ao ano).
Estes elementos todos significam é que a economia brasileira pode continuar recebendo um fluxo importante de empréstimos e investimentos externos nos próximos dez anos, supondo que consiga estabilizar os preços e redescobrir a rota do desenvolvimento (duas hipóteses ainda frágeis, particularmente a segunda). Isto após superada a atual crise cambial que, tudo indica, deve permanecer por meses até se ter certeza de que o balanço de pagamentos está equilibrado.
Uma lição ao Banco Central. Para se ter um sistema financeiro que funcione melhor deve-se permitir mais concorrência, maior espaço para os haveres financeiros não-bancários, desregulamentação e maior abertura externa. Exatamente coisa que o BC não vem fazendo.

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