São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Pacote japonês não entusiasma mercados

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Discute-se muito no Japão o vagar das autoridades depois do terremoto em Kobe. Milhares de vidas poderiam ter sido salvas, segundo os críticos, tivesse o governo decidido agir em tempo.
A valorização do iene frente ao dólar é para muitos a coisa mais próxima de uma catástrofe para a economia japonesa. E novamente a reação do governo japonês tem sido lenta. O pacote fiscal da última sexta-feira, com redução dos juros para 1%, não animou os mercados.
Quando uma moeda se valoriza, como aconteceu com o real brasileiro, é mais fácil importar e mais difícil exportar. A alta do iene prejudica as exportações para os EUA e deveria ajudar a reduzir o déficit comercial (excesso de importações) dos EUA com o Japão.
Os dados sobre comércio exterior japonês para 1993, entretanto, mostram que as exportações japonesas para o mercado norte-americano representam cerca de 30% do total exportado. As exportações japonesas para países em desenvolvimento e novas economias industrializadas na Ásia (como Hong Kong, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan) somam quase 55%.
Para a Europa vão uns 15% das vendas externas japonesas. Ou seja, embora o mercado dos EUA seja bastante importante, já é evidente que os mercados asiáticos consomem mais que os mercados europeu e norte-americano juntos.
Os japoneses oferecem aos americanos medidas fiscais. Os economistas norte-americanos pediam redução dos juros e maior abertura da economia. Na semana passada o iene encostou em 80 por dólar (uma autêntica maxidesvalorização do dólar frente ao iene, de quase 20% desde o início do ano).
O recurso ao pacote fiscal segue uma lógica econômica simples. Menos impostos, mais gastos públicos, esquemas de ajuda às pequenas empresas, tudo isso ajuda a tirar a economia japonesa da recessão. Teoricamente, mais crescimento seria sinônimo de mais importações. Poderia ser assim reduzido o superávit comercial japonês e, portanto, haveria menos razões para o iene valorizar-se.
O que acaba violando essa lógica é a já baixa dependência japonesa do mercado norte-americano. Seria preciso alterar completamente o padrão de comércio japonês para que o estímulo ao crescimento se traduzisse em queda rápida do superávit japonês com os EUA.
Ao mesmo tempo, reduzir impostos e aumentar gastos é igual a desequilibrar as contas públicas. Os americanos conseguiram a redução dos juros no Japão. Mas um governo que gasta mais e arrecada menos talvez precise endividar-se mais. Assim, quanto mais forte o estímulo fiscal, maiores as chances de um endividamento do governo levar depois a juros mais elevados, não mais baixos.
Os japoneses prefeririam ver os americanos elevarem os juros. Afinal, a distribuição dos investimentos e aplicações japonesas no exterior segue um padrão totalmente oposto ao do comércio. Mais de 60% do estoque de investimentos diretos japoneses concentram-se nos EUA e na Europa. Juros mais altos e, portanto, um dólar mais forte, significam valorização desse patrimônio. Seria preferível à queda forçada da moeda do Japão.
A alta do iene parece mesmo um terremoto, mas nesse caso as principais vítimas provavelmente estão do outro lado do Pacífico.
LEIA MAIS sobre o iene na pág. 2-4

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