São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995 |
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O lamento da Paraíba
LUÍS NASSIF
"A cada quatro anos se revezam no governo famílias ou grupos cujos interesses são: a) arrebentar com as contas do Estado; b) fazer tráfico de influência; c) praticar corrupção nos corredores das instituições públicas." "Essas pessoas não querem saber de dar dignidade e bem-estar a quem é pobre ou miserável e -talvez o mais importante- demonstram pouca vontade em modernizar a região, atraindo indústrias, fábricas, estimulando a proliferação de pequenas empresas. Enfim, dando vida à iniciativa privada." "Não fazem isso, acredito, porque a consequência imediata da modernização é o progresso e no seu rastro a criação da sociedade anônima, que não tem dono nem obedece ao autoritarismo." "Isso fatalmente esvaziaria seu mesquinho poder, que se baseia no atraso tecnológico e no feudalismo. Se a massa trabalhadora passar a ser em sua maioria do setor privado, o centro de decisões muda de lugar, passando a ser exercido por profissionais que têm em vista o desenvolvimento e o crescimento econômico." "Aqui, a maioria das pessoas é empregada no serviço público. Quando os senhores feudais resolvem promover perseguições nas estatais, mais da metade da cidade e do Estado fica em pânico." "Se as coisas continuarem como estão, penso seriamente em ir embora daqui antes do ano 2.000. É duro chegar a uma conclusão desta aos 20 anos, mas é a verdade e parece ser a única coisa a fazer para quem se formou em alguma atividade profissional e não quer trabalhar para o Estado ou engrossar o comércio formal ou informal. Por aqui, todos os anos pessoas se formam nas universidades e nos cursos da escola técnica, mas não conseguem emprego por falta de lugares para trabalhar e acabam engrossando a massa ociosa que por último não conseguiu emprego no serviço público." "O Estado não pode nem deve ser gerador de empregos e o senhor sabe bem melhor do que eu sobre isso. Não há a menor condição. A cada ano, os políticos aqui preocupam-se apenas em empregar parasitas e sanguessugas nas estatais." "A civilização do futuro não poupará esse tipo de procedimento. O navio por aqui está para afundar e eu pretendo ser um dos primeiros a abandoná-lo. Ir para qualquer lugar onde haja sólida participação da empresa privada e mais do que cinco cinemas na cidade." André, nossa geração não há de falhar com a sua. Sua angústia há de estimular ainda mais os que lutam por um país justo e moderno. Um país que supere definitivamente o feudalismo e proporcione a pessoas como você a possibilidade de criar e crescer, de ser solidário sem ser cúmplice, de contar com sua própria força e talento, sem depender de apadrinhamentos políticos. Não desanime e jamais se submeta a esse modelo espúrio que você tão bem descreveu e condenou em sua carta. Texto Anterior: Pacote japonês não entusiasma mercados Próximo Texto: Custo do compulsório é repassado ao consumidor Índice |
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