São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Sul-africanos inventam novo inglês no rádio

HUGH POPE
THE INDEPENDENT

Cartas irritadas enchem as seções de leitores de jornais e abarrotam mesas de diretores das AS FM, nova e principal emissora de língua inglesa, antes chamada Rádio África do Sul.
"O que estão fazendo é nos impor sua vontade -vocês vão ter de ouvir música negra e inglês negro deturpado, de qualquer maneira", escreveu um ouvinte indo ao jornal "Joannesburg Star.
Resistindo ao ataque em seu "bunker" localizado no "Radio Park", em Johannesburgo, o novo editor de atualidades da AS FM, Charles Leonard, rascunha mais uma carta em defesa de seus 22 jovens funcionários, quase todos recém-contratados.
"Estamos sendo bombardeados por ouvintes brancos arrogantes de língua inglesa, diz
Os ingleses? Racistas? A acusação melindra uma comunidade que sempre se considerou mais progressista que os africânderes, criadores do regime do apartheid que garantiu aos brancos 46 anos de governo de privilégios.
Para os sul-africanos de língua inglesa, apenas 5% da população, tem sido difícil escolher a cor que vão assumir no arco-íris. A geração mais velha, com saudades de programas familiares como "Just a Minute ou "Any Question, acha que a cultura inglesa está sendo deslealmente afastada da pátria-mãe britânica.
É difícil não simpatizar com a velha guarda diante de declarações como a do diretor-presidente da Corporação Sul-africana de Radiodifusão, Govan Reddy -que, referindo-se de maneira sarcástica à audiência nacional estimada em 400 mil ouvintes, disse que a maioria tinha mais de 55 anos e "um pé na cova".
Apenas dez anos atrás, o único inglês que se ouvia na Rádio África do Sul era o pronunciado pela elite. Hoje, só resta um apresentador à moda antiga.
O inglês que antes era chamado de "seffrican" vai ganhando força, com elementos totalmente africanos, à medida que jovens de todas as cores tentam forjar um novo nacionalismo e uma nova cultura na África do Sul.
"Uma das consequências da chegada do Congresso Nacional Africano ao poder é que a comunidade de língua inglesa está se desligando da Grã-Bretanha, assim como a ocupação britânica provocou o desligamento dos africânderes da Holanda, escreveu Ken Owen, editor do "Sunday Times" sul-africano.
Kenosi Modisani, membro da tribo tswana com 36 anos, produtor da AS FM, deu mostras disso ao chegar ao estúdio agitado com poucos funcionários, distribuindo um "e aí?. O ator Anthony Sher seria entrevistado sobre uma nova montagem de "Titus Andronicus" com sotaque sul-africano.
"Esses sotaques nos aproximam de Shakespeare. As sociedades elizabetana e africana se dão bem", diz Sher. "Parece que estamos atiçando uma controvérsia. Mas não queremos fazer teatrinho seguro".

Tradução de Lúcia Boldrini

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