São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995
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Âncoras de isopor

Âncoras de isopor
Inflação em alta, demanda ainda aquecida e desequilíbrio cambial persistente. Esses são os três aspectos cruciais, e bastante negativos, do atual momento econômico.
O Plano Real foi entendido pela maioria dos analistas como uma estratégia de utilização da chamada "âncora cambial", temporariamente, enquanto se avançava no ajuste fiscal e no encaminhamento de reformas constitucionais. Em março, com a mudança no sistema de bandas cambiais, o roteiro complicou-se e, entre a âncora cambial, saindo de cena, e a fiscal, ainda em fase de ensaios, lançou-se novamente como emergencial e temporária a âncora dos juros altos.
Há dois riscos importantes nessa estratégia. Primeiro, aumentam as despesas financeiras do governo que, ao onerar as próprias contas, dificulta a âncora fiscal.
O outro risco é mais imediato, porém. Diz respeito aos mecanismos de formação de expectativas dos agentes econômicos, especialmente no sistema financeiro.
Há uma armadilha na elevação dos juros quando se percebe também um movimento de alta da inflação. Os mercados podem em alguns momentos interpretar a alta dos juros apenas como reconhecimento, pelo Banco Central, de que a inflação subiu. Ou seja, fica mais difícil para o BC praticar uma política de juros reais (descontada a inflação) crescentes ou até mesmo estáveis. O que em alguns momentos pode parecer uma política ativa (subir as taxas de juros) pode também acabar confundindo-se com uma política passiva (acompanhar a inflação que sobe).
O resultado é dramático: a âncora cambial flutua, a fiscal está desamarrada e a monetária pode ser uma ilusão. Ilusão perigosa quando se constata que em abril os fluxos cambiais ainda são preocupantes. Até o dia 11, o saldo ainda era negativo em cerca de US$ 243 milhões. O barco ainda parece mais pesado do que as âncoras.

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