São Paulo, domingo, 16 de abril de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
O presidente e a hipotenusa
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO - Muito comum em crianças: sentem vergonha quando, acompanhadas pelo pai ou pela mãe, são obrigadas a pedir que eles falem baixo. Tive um colega que ameaçou suicidar-se porque o pai, num ônibus lotado, contava em voz mais ou menos alta para o vizinho do banco da frente que o filho não sabia o que era hipotenusa.Lembro o colega quando abro as folhas e vejo a gritaria feita em torno da visita de FHC aos Estados Unidos. Não chego a ter vontade de apelar para o suicídio, mas sinto alguma vergonha pelo assanhado deslumbramento nacional. Já tivemos presidentes que foram à Casa Branca apenas para ouvir Sérgio Mendes -que eles podiam ter ouvido em Niterói. Pelo menos dois deles, num curto diálogo com o Chefe Branco, foram agraciados com uma única pergunta: "O senhor é comunista?". Bem, o Grande Chefe Branco também os agraciou com os crachás do protocolo e prometeu retribuir a visita. Um presidente americano recebe semanalmente algum chefe de Estado ou de governo, muitas vezes confunde as bolas, mal digere o release que preparam para ele. Numa dessas, consta que um dos nossos marechais-presidentes foi inicialmente confundido com um almirante paraguaio. O dignitário americano ficou surpreendido ao ser informado de que o Paraguai não tinha mar e não devia ter almirantes -ao menos naquele tempo. Ocasionalmente, estava em Nova York quando de duas visitas de presidentes brasileiros. Nos jornais, sequer uma linha. O pessoal da embaixada catimbava meia dúzia de jornalistas locais para a entrevista coletiva no Intercontinental. Apareceram um boliviano, um guatemalteco e -para salvar a honra da pátria- um francês parecido com o Celso Lafer, que fumava cachimbo e representava um jornal do Cairo. Evidente que a prata da casa compareceu em peso e lavou a égua, entupindo as linhas de fax e telex com nossas picuinhas domésticas. Todos constataram que o presidente também não sabia o que era hipotenusa, mas, felizmente, ninguém tentou o suicídio. Texto Anterior: É batendo que se recebe Próximo Texto: Oito ou 80 Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |