São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995 |
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PJ HARVEY A GUITARRISTA
ROBERT CHRISTGAU
Na época, uma garota de visual austero surgiu sem maquiagem e com o cabelo preto preso, que rápida e surpreendentemente se estabeleceu como a primeira roqueira importante que tocava guitarra melhor do que cantava. E como vocalista ela também não era nenhuma desleixada, com peito e inteligência suficientes para corrigir seu timbre delicado, cultivando seu alcance físico e dramático -você nunca sabe o que vai acontecer quando ela abre sua ampla boca. Encontrei P.J. em Nova Orleans e em Los Angeles, quando ela promovia seu quarto disco, "To Bring You My Love". Aos 25 anos, ela ficou fora de cena desde o final de 93, quando lançou "4-Track Demos", seu terceiro álbum em um ano e meio. P.J. nunca foi exatamente aquela hippie camponesa que pintou em 91 e 92, quando conquistou a imprensa pop britânica com as músicas "Dress" e "Sheela-Na-Gig" e o álbum de estréia "Dry". Já que os iniciantes sempre cometem os mesmos erros, não tenho dúvidas de que ela realmente se surpreendeu ao descobrir que uma vez que a música se torna pública ela não mais lhe pertence. "Achava que as pessoas iriam pensar as mesmas coisas que pensei sobre as canções quando as escrevi. Isto me confundiu e depois achei muito divertido o fato de que as pessoas podem interpretar tanta coisa a partir de palavras que significaram muito pouco para mim na época. E vice-versa -coisas que eu achava que teriam um grande peso e as pessoas não entenderam." Eu queria ir além da conhecida "lenda" de Polly: a despretensiosa filha de dois hippies rústicos -uma produtora de shows de blues e escultora de Dorsetshire e seu desconhecido marido, um trabalhador de pedreiras- que surgiu completamente desabrochada das cabeças de Howlin'Wolf e Captain Beefheart para forjar um rock um tanto punk, tosco e/ou de inigualável força sexual feminina. Harvey já havia decidido ser uma artista, talvez uma escultora como sua mãe, com a diferença que ela estudaria em uma escola de arte em Londres. Mas como ela cresceu imersa em música e no conceito de estética, suas ambições eram menos frívolas -e mais competitivas. "Frequentemente achava a música que ouvia superficial, tola. Não havia alma nela, não havia sentimento. E depois, havia tanto desse sentimento no blues. Esse sentimento, essa rusticidade -havia mais profundidade na música do que meus pais assumiam e eu pensei, 'Sim, é possível ter ambos. Você pode ser jovem e ter essa incrível coragem para levar adiante o que está fazendo." Texto Anterior: Seleção de novatos é rígida Próximo Texto: A alegria de ficar deprimido já atravessa várias décadas Índice |
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