São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Depois de Jerusalém

Depois de Jerusalém
Há cerca de duas semanas chegou-se a pensar que o pior da crise latino-americana havia passado. Decorridos alguns dias, os horizontes novamente se turvaram. Parece que a calmaria coincidiu apenas com a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Jerusalém. No encontro a maioria dos economistas e burocratas insistia no acerto das políticas de ajuste adotadas pelas economias que hoje se debatem em meio a uma crise muito parecida com a do início dos anos 80.
O que se conseguiu fazer nos quatro meses desde a crise mexicana foi evitar uma quebradeira financeira generalizada.
Mas a mesma recessão que, em princípio, pode trazer saneamento e iniciar a reversão dos déficits externos que esses países já não têm como financiar poderá, no médio prazo, produzir uma quebradeira em empresas e instituições financeiras locais. Essa quebradeira, por sua vez, pode recolocar exatamente o risco de inadimplência externa que os pacotes de emergência atuais estão tentando evitar.
O CCE (Conselho Coordenador Empresarial), principal câmara patronal mexicana, prevê uma queda de 4,1% no PIB (Produto Interno Bruto) do país em 1955. Para o CCE "o governo não avaliou bem os prejuízos do setor industrial".
Já o presidente da Confederação de Câmaras Industriais, Víctor Diaz Romero, disse que a situação é insustentável sob taxas de juros que alcançam 88% ao ano.
Na Argentina a recessão também já assusta e o fechamento das instituições financeiras menores é iminente. Os saques de aplicações financeiras estão sujeitas a restrições e há conflitos entre governo e bancos sobre esquemas de defesa contra os riscos do sistema.
A solvência externa tornou-se prioridade nas economias latino-americanas em crise. O grau de sacrifício que se está impondo internamente, entretanto, está longe de ser uma garantia confiável, econômica e politicamente, de que os riscos de insolvência futura estejam devidamente reduzidos.

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