São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 1995
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Tradução simultânea

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Anote a senha. Quando encontrar no jornal o termo "demanda" próximo de palavras como "governo preocupado", "assessoria econômica analisa" ou, pior, "desequilíbrio macroeconômico", traduza: alguém está estudando uma fórmula para você consumir menos. E não será agradável.
Em conversa com esta coluna, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, agregou mais uma dica: suspeitar de estudos feitos por empresários sobre o nível de atividade da economia.
Quando ele lê palavras como "entidades empresariais" próximas de estudos indicando "recessão" ou "desaquecimento", traduz: um grupo de indivíduos pode estar manejando dados com, digamos, habilidade, a fim de evitar medidas governamentais que contenham a inflação.
O governo está recebendo estudos preparados por empresários, alertando sobre a queda de consumo -logo viriam o desemprego, queda de lucros, falências, concordatas, e por aí vai. O que é terrível.
Há, entretanto, um clima de tensão nos ministérios da Fazenda e Planejamento. A verdade: ninguém está plenamente seguro de que as medidas para aumentar as exportações e segurar as importações tenham sucesso. Quando o consumo está alto, aumentam as importações. E, ao mesmo tempo, ele pressiona os preços.
Ninguém está, em suma, plenamente seguro de que o Brasil não possa se converter num México. Mais: desconfiam que o atual nível de preços traga de volta a indexação da economia.
O presidente Fernando Henrique e seus ministros econômicos preferem errar, provocando redução do consumo -o que seria mais fácil consertar depois. Melhor, imagina ele, do que errar estimulando a inflação e ficando sem dólar para pagar compromissos internacionais.
O seguro erro, imagina Fernando Henrique, talvez leve junto seu governo.
Realmente não somos o México: não temos uma fronteira tão generosa com os Estados Unidos, capaz de comover com pressa inédita os organismos internacionais.

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