São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Por uma campanha da água

WAGNER COSTA RIBEIRO

A situação do consumo e abastecimento de água na Grande São Paulo não deve ter motivado a comemoração do Dia Mundial da Água, no último dia 22 de março. Estima-se que um terço do total captado, tratado e distribuído para o consumo se perde em vazamentos da rede de distribuição. Também há quem ainda esteja privado de água tratada em sua residência.
Ao mesmo tempo, a captação de água está cada vez mais distante da imensa mancha urbana metropolitana, ameaçando os mananciais e os seres vivos que os habitam. Embora reconheça a gravidade destes problemas, vamos discutir neste artigo o desperdício deste recurso fundamental à reprodução da vida humana, facilmente verificada em ações cotidianas.
Numa dessas manhãs chuvosas presenciei uma cena que me causou espanto e indignação. Um homem manipulava um instrumento técnico, que jogava água em alta pressão sobre a calçada do seu prédio com um preciocismo que o levava a deter-se alguns segundos diante de uma ponta de cigarro...
Minha primeira reação foi a de conversar com o homem que, de pronto, respondeu-me: "Eu faço o que o homem manda, né?" O "homem", segundo pude apurar, era o síndico do prédio, que ordenara o uso do novo equipamento adquirido pelo condomínio não apenas para a lavagem da calçada mas para a garagem.
Inúmeras situações podem ser acrescidas à descrita acima, nas quais se utiliza da "vassoura hidráulica", expressão empregada para definir o arrasto de detritos pela força da água.
São donas-de-casa que, na maior das boas intenções (que também não devia faltar ao tal síndico), preocupadas com a higiene em suas casas utilizam-se (ou mandam que se utilize) de mangueiras para esguichar água sobre a área a ser limpa. Não há mal em se limpar a frente e a garagem de casas e prédios. O problema é o recurso empregado; água tratada!
A implementação de uma campanha da água na Grande São Paulo é urgente. O programa que estamos propondo deveria estar a cargo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, pois trata-se de um problema de alcance regional, que transpassa os limites territoriais até mesmo da região metropolitana, além de dizer respeito a um recurso estratégico com evidente repercussão ambiental e na qualidade de vida dos paulistas.
Seus objetivos seriam o de promover uma maior adequação no uso da água, tendo como alvo os consumidores. Um dos mecanismos para implementá-lo poderia ser uma ampla campanha publicitária, que abordaria os problemas do abastecimento da água.
Além disso, poderia se incentivar a participação da comunidade, através da divulgação de experiências que resultem em um menor consumo de água, tanto por associações de moradores, quanto por grupos ambientalistas. Um trabalho intenso está por ser feito na direção de se poupar este importante e estratégico recurso. Quanto antes o iniciarmos, maiores serão as chances de sucesso.

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