São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Articulador ignora versão final do acordo

DANIEL PIZA; LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O autor e o principal articulador político do acordo ortográfico da língua portuguesa não sabem nem quando nem como ele passará a vigorar.
O ex-embaixador em Portugal José Aparecido de Oliveira, que ao lado do senador José Sarney (PMDB-MA) fez o lobby para aprovação do acordo no Congresso, declara não conhecer a versão final do texto.
"Não sei se há um prazo para a implantação. Na versão anterior ele era de um ano depois da aprovação pelos países", disse.
"Não pergunte a mim. Não sei quando ele será implantado", disse por sua vez o filólogo Antonio Houaiss, principal formulador das propostas do acordo.
Ele sabe apenas que o início da vigência do acordo será definida pelo Executivo.
Para Houaiss, a aprovação demorou muito. "O Brasil está entrando em cena já atrasado."
Quando ministro da Cultura do governo Fernando Collor (1990- 93), Houaiss lutou para que o acordo fosse aprovado e vigorasse a partir de 1º de janeiro de 1994.
Aparecido acha que a aprovação pelo Senado, apesar da demora, veio "na hora certa" porque o presidente Fernando Henrique Cardoso estará em Lisboa (Portugal) no próximo dia 3, um dia depois da chegada do ex-presidente Itamar Franco, que assumirá a embaixada brasileira.
"Eles vão comunicar juntos a formalização de uma comunidade entre os sete países. Foi fundamental que o acordo tenha sido aprovado antes dessa data."
O acordo ainda precisa ser sancionado por FHC e pelo presidente de Portugal, Mário Soares.
"Com a comunidade", diz Aparecido, "teremos sete votos na ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo. Logo, a sanção do acordo ortográfico é uma afirmação de poder."
O ex-embaixador acha que o fato de que 200 milhões de pessoas falam português nos sete países é um sinal da importância do acordo no cenário internacional.
"No mundo que está formando blocos, fazer uma comunidade com sete países que falam a mesma língua é uma afirmação diante do mundo", diz.
Sobre as críticas que o acordo vem recebendo do meio cultural, Aparecido acredita que "são feitas por uma minoria intelectual que logo vai entender a importância política e cultural da proposta".
"Moçambique tem 18 milhões de habitantes, mas só 30% falam português, que é a língua oficial. Mesmo assim, é favorável ao acordo", continua. "Todos os outros países africanos já se mostraram favoráveis."
Para Houaiss, a padronização da língua portuguesa nos sete países "trará maior dinamismo nas relações comerciais".
Ele acredita que o mercado editorial entre os países de língua portuguesa será ampliado com o acordo e que a venda dos livros brasileiros poderá crescer depois da reforma ortográfica.
(Daniel Piza e Luiz Antônio Ryff)

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