São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Linguagem desloca filmes

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Hair" (Globo, 0h) e "Síndrome da China" (SBT, 2h) são dois filmes do final dos anos 70.
Mas o "Hair" de Milos Forman executa uma insidiosa volta ao passado: a um musical que durante anos fez sucesso no teatro, aos hippies, à recusa de aceitar as normas.
O que estava bem nos anos 60 parece, no alvorecer dos 80, um frio relatório, embora venha ao caso lembrar a coreografia por vezes interessante, certas posições de câmera ousadas (enfim, um "know how" que nunca se negou a Milos Forman). Aqui, a linguagem é um eco perdido no tempo.
"Síndrome da China", ao contrário, tem como mérito principal a capacidade de pegar a laço um assunto essencial para o futuro da espécie, no momento em que ele se mostra mais agudo. A saber: o perigo representado pelas usinas atômicas.
Mas o filme de James Bridges perde força ao fazer certas opções. Não é só Jane Fonda, naquele momento possuída pela crença de que sua simples aparição na tela tinha valor de revelação. Não é só um tanto de trivialidade estilística.
O que incomoda é, sobretudo, o papel crítico que desempenha a TV, que é visto com um acriticismo exemplar. No filme, Fonda é uma repórter de TV. Cabe a ela revelar uns tantos segredos que ocorrem numa usina.
Com isso, busca-se a cumplicidade de um espectador que já se acostumava a ser mais telespectador do que outra coisa. E sobre a TV, seu modo de trabalhar, de transmitir imagens como se fossem verdades, o filme moita. Moita, na verdade, porque vai na mesma direção. Finge fazer a crítica. Mas sua escrita é acrítica. A linguagem anula a denúncia.(IA)

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