São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Beastie Boys compram berimbau e apostam no som funk da cuíca

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Show: Beastie Boys
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, tel. 011/282-6255)
Quando: hoje, às 22h
Preço: de R$ 20,00 (pista) a R$ 40,00 (camarote)

O grupo americano de rap Beastie Boys, que toca hoje no Olympia, deu uma entrevista exclusiva para a Folha, ontem pela manhã, no hotel Crowne Plaza.
Beastie Boys vive o melhor momento de sua carreira. Sem o estigma de novidade de sucesso, o grupo pôde amadurecer e lançar discos brilhantes -aclamados pela crítica internacional.
Separados, cada Beastie Boy se comporta como um adulto responsável -principalmente Mike D, o que cuida dos negócios do selo da banda, Grand Royal, e é sócio da loja e grife de moda X-Large. Juntos, eles são os Beastie Boys -um trio hiperativo.
A banda veio com o DJ Hurricane, o tecladista Money Mark e seu produtor brasileiro, Mario Caldato Jr. Ao vivo, alternam hip-hop com discotecagem e show de rock com instrumentos.
Folha - Como vocês lidaram com o sucesso e a riqueza logo no primeiro disco?
Adam Yauch - Nunca recebemos nada pelo disco "Licensed to Ill". Foi por isso que saímos da gravadora Def Jam. Tivemos que processá-los. Acabamos ganhando algum dinheiro na Justiça, mas gastamos tudo com advogados.
Folha - Não daria mais dinheiro gravar um disco do estilo do primeiro, que vendeu 4 milhões de cópias nos EUA, em vez de mudar?
Yauch - Pode parecer uma coisa óbvia, mas para a gente o que importa na hora de fazer música é a diversão. Não sei se seria divertido repetir o mesmo disco.
Folha - Vocês usaram cuíca em "Paul's Boutique" e Money Mark (o tecladista da banda) comprou um berimbau no Brasil. Da onde vem o conhecimento da percussão brasileira?
Mike D - Não sabíamos que se usava cuíca em samba. Foi o nosso percussionista cubano, Juanito, que trouxe o instrumento. Acho o som muito "funky".
Folha - Depois do desprezo que ganhou o segundo disco, vocês esperavam que o próximo, "Check Your Head", devolvesse a banda ao topo da parada?
Mike D - Nunca. Especialmente porque desaparecemos da cena. Ficamos trancados um ano no estúdio, só improvisando e gravando. E fizemos muita coisa que não tínhamos tentado antes. O sucesso foi uma grande surpresa.
Adam Horovitz - Eu esperava. Era o único. Mas esses caras achavam que nossa carreira tinha terminado. Tive trabalho para convencê-los. O Mike já estava pensando em armar um grupo vocal, tipo Boyz II Men, para pagar as contas.
Folha - No ano passado, vocês foram capa de uma dúzia de revistas americanas e inglesas. A mais elogiosa foi a da "Melody Maker", que os chamou de banda mais "cool" (legal) do planeta. Como vocês lidam com tanto "hype" (promoção)?
Yauch - A capa da "Melody Maker" foi embaraçosa. Tanto quanto o artigo da "Details" chamando Henry Rollins (da Rollins Band) de "homem do ano".
Horovitz - Não gostamos que façam esse tipo de artigo com a gente. Além do mais, todo esse papel só serve para uma coisa: embrulhar muito peixe.
Folha - Vocês começaram com hardcore e agora voltaram ao velho estilo, alternando músicas pesadas com hip-hop. Isso marca o balanço de um ciclo e o possível início de outro?
Mike D - Foi mesmo um círculo completo. A gente chegou a alternar faixas de hardcore e hip-hop quando fizemos "Cooky Puss" (o primeiro rap da banda, de 1985). Agora, temos "Sabotage" no meio de um disco de rap. O futuro? Temos grandes planos para a cuíca.

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