São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Pacto de silêncio une ministros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As críticas do ministro Sérgio Motta à área social do governo e aos ministérios da Educação e da Saúde criaram constrangimento ontem na solenidade do Dia do Exército. Nove ministros civis presentes -inclusive Motta-, os ministros militares e o presidente interino Marco Maciel fizeram um pacto de silêncio.
Condecorados com a Ordem do Mérito Militar, ninguém quis comentar as críticas do ministro das Comunicações, que atribuiu anteontem à "masturbação sociológica" as hesitações do governo na área social. As críticas foram feitas durante encontro com parlamentares do PMDB.
Só o ministro extraordinário dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, resolveu falar.
"Em três ou quatro meses, as coisas não podem andarem (sic) como a gente quer", disse Pelé.
O ministro disse que "o povo precisa de um pouco mais de paciência".
Logo depois de encerrada a entrega das medalhas, Motta recebeu um abraço do colega Paulo Renato (Educação), um dos que foram criticados por ele anteontem.
"Críticas? Não, nada", disse Paulo Renato. Ele e Motta tentaram conversar algo, mas a presença dos jornalistas os impediu. Motta, então, abriu caminho entre os repórteres, afastando-os com os braços: "com licença".
O ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho disse que não tratou das críticas de Motta com FHC. "Ele deve ter a mesma reação quando lê os jornais: Oh!, os romancistas entraram em ação".
Partidos
As declarações de Motta repercutiram mal no Congresso.
A bancada do PSDB avaliou que a expressão "masturbação sociológica" foi a pior frase dita sobre o governo até hoje. Em conversas reservadas, os tucanos disseram que Motta deveria ter se submetido à mesma disciplina imposta à bancada.
O pior, avaliam os tucanos, é que o ministro não teria falado nenhuma mentira.
"Ficamos perplexos e isso vai ter que ser mais bem-esclarecido", afirmou o deputado Nelson Trad (MS), líder do PTB na Câmara, partido que apóia o governo.
Saiu pela culatra a tentativa de Motta de se aproximar da bancada do PMDB. O estopim da revolta aconteceu quando o "Jornal Nacional", da Rede Globo, divulgou anteontem à noite uma nota do ministro que atribuía a peemedebistas a invenção de que o ministro teria criticado o governo.
Deputados do partido se disseram "perplexos" com a tentativa de Motta de negar as afirmações.
"A fita não fará mais do que transmitir o que o ministro disse", alfinetou o líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (PMDB), antes de a gravação ser posta à disposição dos jornalistas na Câmara (leia trechos nesta página).
Ele classificou a fala de Motta de "uma prosa muito aberta".

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