São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Família perde carro e o plano de saúde

Bicos rendem R$ 250 a desempregado

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1992, Gilberto Ves, 42, perdeu o emprego, o carro, o plano de saúde e a escola do filho excepcional.
Ele mora em uma casa própria no Jardim Iguatemi (zona leste de São Paulo) com a mulher Maria e três filhos.
Depois que foi demitido da indústria química Rhodia, onde trabalhou por 18 anos como auxiliar administrativo, Ves nunca mais teve emprego fixo.
A renda da família, cerca de R$ 250 por mês, vem de bicos como pintor e com a venda de churro (doce recheado) em uma escola estadual do bairro. "Ninguém dá emprego para um homem com mais de 40 anos."
O filho de Ves, de 12 anos, fazia tratamento para um problema mental congênito pelo convênio da Sul América. Hoje, enfrenta filas no SUS (Sistema Único de Saúde).
"Graças a Deus não precisamos pagar aluguel, ou não teríamos o que comer", afirmou o desempregado.
O drama de ficar sem casa atingiu a família Silva, que ocupa um barraco de madeira em um acampamento de "sem-terra" na zona norte.
Valquíria Francisca Silva, 25, e José Lourenço da Silva, 35, também sobrevivem de bicos. Há cinco anos atrás, ela trabalha como faxineira diarista e ele em uma transportadora.
Os dois moravam com os três filhos -o mais velho de 10 anos- em uma casa de dois cômodos no bairro de Cachoeirinha (zona norte).
Com o desemprego, o jeito foi invadir um terreno da prefeitura. "Não havia escolha: ou pagava o aluguel, ou comia", disse Valquíria.
Marcela Custódio, 26, mora embaixo de um viaduto na Barra Funda (zona oeste). Como carroceira, ganha R$ 200 por mês para sustentar a filha Patrícia, 6.
Foi para debaixo do viaduto porque não conseguia pagar aluguel, luz, água e comida. Ela diz que faz de tudo para evitar a gravidez. "Para quê ter um filho nessa situação?"

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