São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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'O ar ficou negro e os telhados desabaram'

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

"Todas as janelas estouraram brutalmente. O ar ficou negro e os telhados desabaram". Assim Carole Lawton, uma secretária de 62 anos, relatou o momento da explosão do edifício Alfred Murrah, no centro de Oklahoma. Ela estava no prédio no momento do estouro.
O chão, nos arredores do edifício, ficou coberto por escombros. Os rostos, braços e pernas dos pedestres ficaram arranhados por estilhaços de vidro e metal.
Pedaços de ladrilhos e cimento obstruíram o trânsito dos carros de emergência. O céu foi encoberto pela fumaça que saía de dezenas de carros em chamas.
"Vi cinco ou seis garotos gravemente feridos. Teriam entre 18 meses e 5 anos", declarou George Young, padre de um hospital próximo ao local.
"A maioria foi ferida por estilhaços. As pessoas corriam desesperadas para fora do prédio, o rosto e o corpo cobertos por pedaços de parede e vidros", disse o vereador Kevin Cox.
"Achei que todos nós morreríamos. Nunca ouvi um ruído tão forte", disse Ginny Grilley, que estava no 13º andar de um prédio situado a várias quadras do local.
"Foi horrível. O simples fato de ver a queda da maior parte do prédio, os carros destruídos, as pessoas feridas... Foi terrível".
Um homem que participava de um reunião em um prédio, a duas quadras do Murrah, explicou que o deslocamento de ar provocado pela explosão fez as pessoas serem levantadas de suas cadeiras.
Várias pessoas feridas, algumas totalmente ensanguentadas, foram vistas saindo do local, cambaleantes. "Em alguns casos, era muito difícil tentar uma identificação, de tão machucadas que estavam as pessoas", conta Tara Blume, que estava nas imediações do prédio.
"Metade do prédio foi arrancado. É como se alguém tivesse chegado e cortado fora uma metade inteira", disse ela.
"Há um grande pedaço completamente destruído", disse Jack Stevens, que trabalha em um prédio vizinho, onde funciona a Associação Cristã de Moços. "Olhando de fora, dá para ver dentro das diferentes salas.
Segundo os bombeiros, ainda existem sobreviventes da explosão sob os escombros do prédio.
"As vítimas estão tão perto de nós que poderíamos passar o braço através das grades e dar a mão a elas", disse o chefe dos bombeiros encarregados do resgate.
"Mas levaremos muito tempo até conseguir chegar a elas. Ele estimou que a operação de resgate vá levar de dois a três dias".
"Há pessoas chorando. Estamos conversando com as vítimas, tentando tranquilizá-las na medida do possível". Ele afirmou que vários bombeiros saem do edifício "com lágrimas nos olhos por sua incapacidade de retirar os feridos".
Ele disse que o prédio corre o risco de desmoronar. "A situação está perigosa no momento. O edifício está instável", declarou.
As equipes de resgate continuam esquadrinhando os escombros, com a ajuda de cães amestrados e aparelhos hidráulicos e de detecção de sons.
"Os trabalhos de resgate serão muito lentos", advertiu o bombeiro, acrescentando que várias tubulações de água e gás se romperam. "Estamos trazendo equipamento pesado para levantar paredes e pisos". Esses equipamentos são semelhantes aos usados no terremoto do ano passado na Califórnia.
Os hospitais de Oklahoma City estão lotados com as vítimas do Murrah. Funcionários do hospital mais próximo ao edifício calculam que mais de cem pessoas tenham ido buscar tratamento.
O hospital St. Anthony convocou todos os médicos e enfermeiros disponíveis. A Cruz Vermelha local iniciou uma campanha para doação de sangue.

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