São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Stay Day

GILBERTO DIMENSTEIN

NOVA YORK - Uma reveladora piada percorre a comitiva presidencial em Nova York. Como d. Pedro, Fernando Henrique Cardoso também criaria o "Dia do Fico". A diferença é que o presidente diria ao "povo que fica" -mas nos Estados Unidos. Claro que, pelas circunstâncias, a data receberia uma tradução mais conveniente aos novos tempos: "Stay Day".
Apenas a seleção das notícias que chegaram ontem de manhã pelo fax justificam a piada. Melhor amigo e mais próximo assessor de FHC, Sérgio Motta, desanca o Comunidade Solidária, classificando-o de "masturbação sociológica" e acusando-o de lerdo e, até aqui, ineficaz. Timing perfeito.
Ao mesmo tempo em que ele atacava o Comunidade Solidária, Ruth Cardoso, sua presidente, reunia-se com representantes de organismos da ONU à procura de apoio. Apresentava o projeto como uma alternativa à pobreza. Ainda se fosse só isso.
Os governadores do Nordeste ameaçam articular a moratória de suas dívidas com a União. Traduzindo: mais rombos a serem tapados sabe-se lá como. A Justiça Federal em Pernambuco derruba a nova alíquota para importação. O vice Marco Maciel aparece na manchete da Folha como articulador de favores a deputados de seu Estado, inibindo a contenção de despesas.
Aqui, ao contrário, ele teve a chance de ir um magnífico show em homenagem a Tom Jobim. Usei a palavra magnífico, mas se o leitor tiver uma palavra melhor que signifique o máximo, pode usar.
A qualidade do show, porém, não foi nada. Ele foi aplaudido de pé pela platéia, quando anunciaram seu nome. Curioso: recebeu em Nova York uma manifestação popular que já não recebe no Brasil, onde CUT, sindicatos de funcionários públicos, e assim por diante, infernizam seus deslocamentos.
É tratado com deferência pelo governo dos Estados Unidos, empresários e, principalmente, pelo mundo acadêmico, onde é apontado como uma promessa de estadista mundial. Não tem de discutir cargos. Só idéias -e, supremo charme, em inglês.
Ao voltar para o Brasil, ele vai mostrar que, se quiser discutir idéias, terá de falar em cargos. E em português.
PS - Ao defender com dureza Adib Jatene, atacado por Sérgio Motta, Antônio Carlos Magalhães não estava apenas prestando uma gentileza ao médico que salvou seu coração. Mas a um eventual candidato capaz de salvar seu partido na próxima sucessão presidencial. Essa a interpretação ontem na comitiva presidencial.

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