São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 1995
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Ocidente e Oriente se encontram em Istambul

Metrópole entre Europa e Ásia vive crise de identidade

MANOEL DIRCEU MARTINS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Após mudar os rumos da história e inaugurar a Idade Moderna há 542 anos, Istambul -a antiga Constantinopla- vive uma crise de identidade.
Aqui, como em poucos lugares do planeta, o consumismo do Ocidente se confronta com os princípios islâmicos do Oriente.
Dois mundos regidos por marcantes diferenças de comportamento que, graças à convivência pacífica na Turquia, cada vez mais se influenciam mutuamente.
O fluxo de automóveis que transportam pessoas, mercadorias, sonhos e preces de uma parte à outra não se interrompe nunca. No caminho entre o Ocidente e o Oriente, sempre é hora do rush.
A coexistência das duas doutrinas produz uma constante dicotomia na vida cotidiana de seus moradores -99% da população é praticante da religião muçulmana.
Grande parte dos cafés de Istambul, a maior cidade e a mais ocidentalizada, não vende bebidas alcoólicas, em respeito aos ensinamentos do Alcorão, o livro sagrado do islamismo.
A hierarquia familiar é solidamente a base da sociedade e é comum entre os jovens beber Coca-Cola escondidos.
Por outro lado, o governo procura orientar sua política econômica para o mercado internacional, preocupado com os resultados da balança comercial da nação.
A abertura aos visitantes estrangeiros é incentivada pelo Ministério do Turismo, que administra uma das maiores fontes de renda do país.
Nas ruas do centro de Istambul, os cartazes das multinacionais são tão frequentes quanto no centro de São Paulo. Comer hambúrguer com fritas também há muito deixou de ser novidade.
Até militarmente a Turquia é um caso singular. O país é o único membro muçulmano da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), desde 1952.
O recente processo de pacificação no Oriente Médio teve reflexos positivos diretos para o turismo na Turquia, que espera para este ano um recorde de visitantes.
Istambul, com seus 7,5 milhões de habitantes, é o resultado dessas e muitas outras convivências, que proporcionam incontáveis espetáculos a serem presenciados.
Explorar as marcas deixadas pela aventura dos persas, macedônios, bizantinos, romanos e otomanos, para citar apenas os reinos mais importantes que se estabeleceram às margens do Bósforo, não precisa ser necessariamente uma atitude didática. Pode ser simplesmente uma experiência fascinante.
Istambul é só movimento. Dentro ou fora do Grande Bazar, o coração comercial da cidade, toda rua é rua de mercado.
O tomateiro volante da esquina pesa seus frutos na balança de pratos à frente da freguesa que pechincha o preço do quilo.
Na pausa para o almoço, geralmente de pé na calçada com um punhado de arroz numa mão e uma coxa de galinha na outra, ele corre ao bazar para tratar de "um outro negócio", enquanto isso seu irmão o substitui na parte detrás do tabuleiro.
Cenas como esta exigem um passeio informal pelo cotidiano anônimo dos turcos.
Mas falar de Istambul e não mencionar suas mesquitas é como visitar Paris e não ver... Bem, uma vez na cidade, é impossível não ver as mesquitas.

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