São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Travestis preparam investida na política

Encontro vai homenagear Kátia

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Um encontro nacional marcado para junho, no Rio, vai lançar as bases de um plano de engajamento dos travestis brasileiros no cenário político-partidário.
As propostas da Astral (Associação de Travestis do Rio de Janeiro) incluem o lançamento de candidatos a vereador nas eleições do ano que vem e até a criação de um partido próprio.
A homenagem especial do encontro irá para o travesti José Nogueira Tapeti Sobrinho, a Kátia, eleito vereador pelo PFL na cidade de Colônia do Piauí, a 360 km de Teresina.
Kátia foi o segundo candidato mais votado do município, que tem 7.000 habitantes, em 1992, com 175 votos.
Durante a campanha, teve de enfrentar o discurso conservador de adversários. José de Adão (PDT) era o mais contundente e centrou sua campanha no combate ao homossexualismo.
"Pareço mais mulher que as mulheres e sou mais corajosa que muitos machos que vivem na cidade", diz Kátia, para explicar sua liderança.
Com salto alto e às vezes saia justa, Kátia frequenta as sessões da Câmara Municipal, em que é tratada pelo pronome "ela".
A vereadora Jurema Batista (PT-RJ) vai propor a entrega da medalha Pedro Ernesto -a mais importante condecoração da Câmara Municipal do Rio- à vereadora Kátia.
A presidente da Astral, Jovana Baby, 30, disse que, inicialmente, os travestis devem sair candidatos pelo PT.
Segundo ela, o PT, o PPS e o PC do B são os partidos com os quais as associações de travestis se identificam e dos quais receberam apoio em ações de saúde e organização.
"Podemos chegar, se possível, a um partido próprio, como um Partido Humanista, Partido da Igualdade, que possa juntar minorias como as nossas", afirmou Jovana Baby.
Para o encontro de junho -cujo tema é "Cidadania não tem roupa certa"- estão previstas discussões sobre mercado de trabalho, discriminação, prevenção de Aids e saúde dos travestis.
Pelos cálculos da Astral, mais de 60% dos travestis do Rio sobrevivem da prostituição. Outros trabalham como enfermeiros, cabeleireiros ou manicures.
"Entre os 1.200 filiados da Astral, há arquitetos, técnicos, gente que poderia trabalhar em sua área, mas não consegue. Às vezes, a prostituição é a única saída", disse Jovana.
Representantes de associações de travestis de todos os estados brasileiros estão sendo esperados para a reunião de junho, que tem o apoio do Ministério da Saúde.
Segundo Jovana Baby, o 3º Encontro Nacional de Travestis pretende entregar à Folha o troféu Astral de Cidadania, pela reportagem publicada em 26 de março de 1995 sobre a vereadora piauiense Kátia.

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