São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Professora pede "justiça"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

As famílias de pessoas desaparecidas durante o regime militar têm direito a uma compensação financeira do Estado, disse ontem, em Washington, o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ele respondia a uma pergunta durante a reunião que teve com intelectuais. A professora brasileira Angela Harkavy, da George Mason University, fez a questão.
Ela tem um irmão desaparecido. Pedro Alexandrino de Oliveira era militante do PC do B na década de 70 e atuou na guerrilha do Araguaia. Em 94, a família foi informada de que ele está morto.
Harkavy diz que ela e sua mãe querem saber onde está o corpo de Oliveira e quais foram as circunstâncias de sua morte. Emocionada, ela teve dificuldades em controlar o choro enquanto fazia a pergunta.
O presidente respondeu que as famílias dos desaparecidos têm o direito de receber essas informações, mas que ele não dispõe delas. Disse que vai mandar apurar e depois entrar em contato com ela.
O secretário de Assuntos Estratégicos, Ronaldo Sardenberg, pediu a Harkavy que lhe passe um fax com todos os dados a respeito do caso. Ela disse que deu essas informações a ele há um ano.
Há algumas semanas, FHC foi acusado pelo secretário-geral da Anistia Internacional, Pierre Sané, de ter sido evasivo e mostrado pouca vontade de colaborar, quando trataram dos desaparecidos.
O presidente se referiu a esse desentendimento, sem citar o nome de Sané ou da Anistia, ao responder a outra questão sobre direitos humanos no Brasil. Ele disse ser simpático à idéia de crimes cometidos por Policiais Militares serem julgados pela Justiça civil.
"Mas isso depende de reforma constitucional, e isso leva tempo. Quando eu digo que as coisas levam tempo, alguns me acusam de ter má vontade para que elas aconteçam. É muito fácil escrever relatórios. Eu escrevo um em pouco tempo. Muito mais difícil é mudar a sociedade."
Harkavy deixou alguns dos presentes emocionados. Ela disse que não queria colocar FHC em situação difícil, mas que tem o dever de tentar descobrir o que aconteceu com seu irmão.
(CELS)

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