São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Médicos se dividem sobre plano de Maluf

DA REPORTAGEM LOCAL

O debate sobre o PAS (Plano de Atendimento à Saúde) realizado no auditório da Folha na última terça-feira mostra que médicos e o secretário municipal da Saúde concordam que é preciso mudar a forma de gerenciar o dinheiro destinado a área.
Mas discordam de que o PAS (projeto idealizado pela equipe do prefeito Paulo Maluf) seja a melhor solução.
Cerca de 130 pessoas marcaram presença na discussão aplaudindo, vaiando e fazendo perguntas aos debatedores Getúlio Hanashiro, secretário municipal da Saúde, José Knoplich, presidente da Associação Paulista de Medicina, Tito Nery, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Regina Parizi, presidente do CRM (Conselho Regional de Medicina), e Raul Cutait, médico e ex-secretário municipal da Saúde. O coordenador de Artigos e Eventos da Folha, Otávio Dias, mediou a mesa-redonda.
Os debatedores concordaram que é preciso mudar a forma de gestão dos recursos destinados à saúde, mas a proposta de mudança feita pela prefeitura através do PAS não foi consenso.
Pelo PAS, os postos de saúde e hospitais municipais serão controlados por cooperativas de médicos. Os moradores da cidade vão ter de se cadastrar nos postos de sua região e receberão uma carteirinha, que deverá ser apresentada para o atendimento. Cada cooperativa receberá R$ 10,00 por paciente cadastrado. Essa quantia deverá cobrir todos os gastos com atendimentos e salários.
Para Cutait, "o grande pecado desse projeto foi ele não ter sido discutido amplamente".
"A saúde tem o lado de prevenção, reabilitação, e, num programa que pretende ser amplo e importante como o PAS, essas ações devem estar muito bem equacionadas antes mesmo do início da ativação do projeto", disse Cutait.
"A lógica privada desse modelo só é eficiente no atendimento curativo individual e a lacuna que se tem hoje na população é na área de promoção da saúde e dos atendimentos terciário e quaternário", afirmou Regina Parizi, do CRM.
O atendimento primário se refere a consultas ambulatoriais. O secundário são casos de maior complexidade que não exigem internação, como suturas. O terciário inclui internações e o quaternário, casos de alta complexidade, como cirurgias cardíacas e pulmonares, que necessitam de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
"O desenvolvimento de ações de prevenção às doenças mais complexas, epidemias e trabalhos de pesquisas são essenciais para modificar o quadro de saúde de um país e essas ações só são possíveis através do poder público, que não pode abrir mão desse espaço", afirmou Parizi.
"Em nenhum momento se colocou que a prefeitura abriria mão de sua obrigação de participar de uma política de saúde", disse o secretário Getúlio Hanashiro. "Com o PAS, todas as campanhas preventivas estão consagradas, e a sistemática que já existe no plano nacional será mais facilmente executável a partir de uma gestão regionalizada."
Quanto à crítica de que o plano promoveria a privatização do sistema municipal de saúde, o secretário afirmou que "não se trata de privatizar". "O PAS propõe uma gestão compartilhada, com motivação dos recursos humanos."
A questão da motivação foi apontada por Tito Nery, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, como um dos principais entraves ao funcionamento da rede de saúde.
"Um profissional motivado precisa de outros estímulos, mas se o médico recebesse as gratificações prometidas e o salário chegasse pelo menos a R$ 1.000, estancaria a evasão na rede municipal", afirmou. "Não é por estar recebendo um salário de R$ 500 que o médico vai aceitar qualquer nova proposta para a saúde."
Nery afirmou que as cooperativas propostas no plano "não são cooperativas". "Elas estão sendo impostas aos médicos, ferem a livre associação."
O presidente da APM, José Knoplich, disse que a associação "apóia o cooperativismo médico". "As cooperativas do PAS têm de ser separadas por categorias, enfermeiros, médicos, psicólogos", afirmou. "É importante não perder os direitos adquiridos."

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