São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estudantes trocam escola por lavoura

CHICO PEREIRA
DA FOLHA VALE

O diretor do departamento de Educação de São José do Barreiro, Antonio Gonçalves, 29, disse que um dos motivos do alto índice de analfabetismo do município é a distância entre os bairros rurais e o centro urbano.
A maioria da população de 7.000 habitantes mora na zona rural, em bairros distantes até 60 km do centro. "Temos bairros onde a merenda escolar chega em tropas de cavalo ou burro, disse.
Segundo pesquisa feita pelo Unicef, São José do Barreiro (260 km a nordeste de SP) tem um índice de 15,4% de analfabetos entre jovens de 15 a 18 anos.
A zona rural tem 23 escolas de emergência, que têm apenas uma sala de aula e banheiro e oferecem cursos até a quarta série do 1º grau. Na zona urbana, há três escolas de 1º e 2º graus.
Anualmente, a Secretaria Estadual da Educação registra anualmente queda no número de matrículas. De 893 matrículas em 93, o total caiu para 644 no ano passado, ano em que a evasão passado.
Em 93, houve evasão de 18,19% e reprovação de 14,58% entre os 725 alunos do 1º grau. No 2º grau (104 matriculados), os índices foram de 25,96% e 14,58%, respectivamente.
Segundo Gonçalves, a prefeitura (que administra duas escolas infantis) não tem projetos para tentar reverter esse quadro, por considerar isso "obrigação do Estado.
Ele afirmou que os pais dos estudantes, também analfabetos, não incentivam os filhos a estudar. "É uma questão cultural.
O lavrador Waldenir da Silva Laurindo, 16, trocou os estudos pelo trabalho para ajudar a sustentar a família. Sabe assinar só o nome e o único documento que tem é a certidão de nascimento.
"Não gosto e não quero estudar. Para mim não faz falta. Ele afirmou que prefere passar oito horas trabalhando a ficar duas horas "aprendendo números e letras.
Laurindo mora fazenda Primavera, distante 6 km do centro de São José do Barreiro, em uma casa de cinco cômodos que divide com a mãe, a avó e três irmãs. Ganha R$ 4 por dia de trabalho.
O trabalhador rural Juscelino de Moraes, 18, disse que abandonou a escola seguindo o exemplo de irmãos mais velhos. Vive com a mãe e 12 irmãos em um bairro rural a 2 km da cidade.
Moraes trabalha em uma fazenda produtora de capim e ração e ganha R$ 70 por mês. "Quem sabe um dia eu vá à escola, disse.
São José do Barreiro foi uma das mais importantes cidades do Vale do Paraíba durante o ciclo do café, no século 19. Hoje, a principal atividade econômica é a agropecuária.

Texto Anterior: Índice em SP chega a 26%
Próximo Texto: Músico prega alogamento para 'afinar' o corpo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.