São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Músico prega alogamento para 'afinar' o corpo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

No intervalo de suas apresentações, os músicos de orquestras alemãs estão ficando de cócoras para relaxar e se alongar -como fazem nossos índios e caipiras.
Um dos responsáveis por essa prática é o pianista brasileiro Marco Antônio de Almeida, 46.
Almeida tem formação médica e é professor de piano da Universidade de Hamburgo, na Alemanha. Sua tese tratou das relações entre a sonoridade e a postura dos músicos, especialmente pianistas.
Depois, procurado por colegas que sofriam com tendinites e bursites (inflamações em diferentes partes do corpo), Almeida virou um especialista em "LER" -ou "lesões de esforço repetitivo".
Hoje é tão requisitado para seus recitais de piano como para aulas e cursos que tratam de postura e alongamento. "Quem usa o corpo como instrumento, vai afinar esse corpo para conseguir melhor sonoridade", afirma.
Na carona dos pianistas e violinistas vieram os digitadores, jornalistas, dentistas -profissionais que trabalham sentados ou em pé e cujas atividades exigem o movimento preciso das mãos.
Hoje, a agenda de Almeida inclui aulas em várias capitais brasileiras e cursos encomendados por orquestras e empresas européias.
"As empresas constataram que prevenir as lesões por esforço repetitivo custa menos que perder seus funcionários por longos períodos."
A tendinite, a mais comum das lesões, provoca dor, dormência e incapacita a vítima para o movimento das mãos. A doença afasta do trabalho milhares de profissionais durante semanas ou meses.
Nas suas aulas, Almeida ensina o que chama de reeducação ou reabilitação. Nada de medicamentos, cirurgias ou gesso. Nem excesso de zelo com o mobiliário.
"Cadeiras e mesas em alturas e posições corretas resolvem quase a metade dos problemas. Porém o mais importante é a postura."
O ideal é a combinação do mobiliário com a postura. As cadeiras devem ser reguláveis e o usuário tem de escolher uma posição que possibilite movimento e conforto.
O esforço deve ficar limitado às mãos, de forma a não cansar os braços e os ombros.
Segundo Almeida, as vítimas do LER que engessam ou imobilizam a mão acabam tendo os mesmos problemas se não adotarem hábitos corretos.
Ele diz que exercícios de alongamento devem ser praticados cada vez mais. "As pessoas que repetem movimentos ou malham nas academias tendem a encolher. O alongamento vai virar a coqueluche dos próximos anos", prevê.
Almeida está preparando um livro onde ensina uma série de exercícios de alongamento que podem ser praticados no escritório. Para ele, os mais simples exercícios de alongamento -como o espreguiçar ou ficar de cócoras- podem evitar lesões e diminuir o cansaço.

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