São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Grupo racista vê governo como inimigo

DA REDAÇÃO

Grupo racista vê governo como inimigo
Os três suspeitos pelo atentado a bomba em Oklahoma City detidos ontem seriam militantes de uma organização paramilitar acusada de racismo que tem o governo dos EUA como seu principal "inimigo".
A Milícia de Michigan foi fundada em abril do ano passado pelo reverendo Norman Olson, 48, da Igreja Batista do Calvário, em Alanson, Estado de Michigan (norte dos EUA). Um porta-voz negou ontem qualquer participação do grupo no atentado.
A organização, considerada a maior entre as diversas milícias criadas em vários Estados norte-americanos, tem hoje cerca de 12 mil integrantes. É formada em sua maioria por homens brancos com idades entre 20 e 50 anos, em geral profissionais liberais ou pequenos empresários.
Em janeiro último, a Folha entrevistou um dos líderes da Milícia de Michigan, Ray Southwell, discípulo de Olson e dono de uma loja de armas em Alanson.
Southwell prega a "defesa da Constituição e dos direitos humanos contra os inimigos internos -todas as organizações do governo- e os inimigos estrangeiros".
Segundo ele, o objetivo do grupo é lutar contra decisões do governo norte-americano que restrinjam suas liberdades.
Os principais inimigos da milícia, afirmou Southwell, são órgãos governamentais como o FBI (Birô Federal de Investigação, a polícia federal dos EUA), o ATF (Birô Federal de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo) e o DNR (Departamento de Recursos Naturais, equivalente ao Ibama no Brasil).
O ATF e o FBI tinham escritórios no edifício Alfred Murrah, destruído no atentado da última quarta-feira.
Depois de novembro de 1994, quando o Congresso aprovou projeto do presidente Bill Clinton para controle de armas de fogo, a Milícia de Michigan cresceu.
Southwell disse que o grupo é contra essa lei porque a posse de armas nos EUA é uma tradição.
"Todo cidadão é livre para ter sua arma e proteger sua propriedade. Por isso, entendo que o governo é uma ameaça à nossa liberdade", afirmou.
A filosofia do grupo é centrada em um esforço patriótico de forçar os governos federal e estaduais a voltar aos princípios constitucionais. A milícia é contra o controle dos impostos pelo governo.
Grupos de pesquisa ligados aos direitos humanos nos EUA, como a The Southern Poverty Law Center, de Montgomery (Alabama), estimam que cerca de 350 mil pessoas em 36 Estados norte-americanos integram milícias ou são ligados a grupos extremistas.
Ray Southwell é um dos 16 líderes listados pelo instituto. Segundo pesquisadores, esses grupos têm idéias racistas.
Norman Olson, ex-oficial da Força Aérea, já foi pastor de uma "Igreja das Nações Arianas".
Essa referência religiosa pode estar ligada à data do atentado de Oklahoma -em 19 de abril de 1993, agentes do ATF e do FBI invadiram o chamado Racho do Apocalipse, em Waco (Texas) pertencente à seita Ramo Davidiano, acusada de posse ilegal de armas e de abuso de crianças; 7 pessoas morreram.
Uma TV de Michigan disse ontem que um líder da Milícia defendeu publicamente o Ramo Davidiano no mês passado e afirmou que "algo aconteceria" em represália à ação dos agentes federais.
Outra coincidência, relatada pela revista "Time", é que um dos homens que alugaram no Kansas o furgão usado no atentado apresentou uma licença de motorista falsa de Dakota do Sul com o nome de Robert Kling.
A data de nascimento era 19 de abril de 1979, mesmo dia e mês da invasão do Rancho do Apocalipse e do ataque em Oklahoma.

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