São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Congresso por baixo

GILBERTO DIMENSTEIN

WASHINGTON - A imagem internacional do presidente Fernando Henrique Cardoso e do Brasil sai melhor dessa viagem aos Estados Unidos que hoje termina -basta ver as reportagens favoráveis publicadas ontem no "The New York Times" e no "The Wall Street Journal", dois dos mais influentes jornais do mundo. Mas, em compensação, a imagem do Congresso brasileiro está ruim -o que é, em parte, falso.
Esculpe-se, aqui, a seguinte imagem, aceita por empresários, intelectuais e governo dos Estados Unidos: Fernando Henrique está no caminho certo para corrigir o Brasil, uma nação repleta de potencialidades. Seu maior adversário seria um Congresso incapaz de entender os novos ventos da história, preso a corrupção, clientelismos e provincianismos. Enfim, atrasado e ignorante.
Daí a demora na aprovação da lei de informática e a dificuldade de aprovação da reforma constitucional para abrir mais a economia e reduzir o tamanho do Estado. A desconfiança não é sobre os propósitos do presidente, mas sua capacidade de executá-los.
A verdade: de fato, há amplos segmentos no Congresso incapazes de enxergar um palmo à frente da busca imediata do voto; alguns deles, embora honestos, vêem nos monopólios a defesa do interesse público. A mentira: a culpa não é só do Congresso.
O problema é que o governo, imaginando-se imbatível pelos votos das eleições e acreditando num Congresso servil, descuidou-se. Não mostrou que a reforma constitucional era uma prioridade, vital para o objetivo de garantir estabilidade.
Não tentou ganhar a opinião pública, na suposição de que estava, como se diz, no "papo". Brilhante analista, Fernando Henrique não entendeu, porém, exatamente sua vitória nas urnas. Ele não venceu porque tinha um plano de reformas. Venceu porque ganhou o plebiscito sobre quem gostava ou não da inflação baixa. O resto é detalhe.
O Congresso acaba se prestando ao papel de bode expiatório de uma crise que, em essência, foi criada pelos governos que passaram pelo Palácio do Planalto, criando despesas tresloucadas ou apostando em prioridades erradas.
PS - Lula criticou o entendimento entre Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton. Ele se coloca, assim, à esquerda de Fidel Castro, que hoje rasteja por investimentos estrangeiros e já flexibilizou setores como petróleo e telefonia.

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