São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Governo propôs reformas demais, afirma presidente

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem em Washington que volta a Brasília disposto a colocar "mais elementos de convicção" no debate sobre as reformas constitucionais, em especial o sentido de sua urgência.
Em entrevista coletiva no salão John Hay, do Hotel Hay-Adams, o presidente ponderou que "talvez tenha mandado reformas demais" para o Congresso: "É preciso dar tempo para as idéias serem absorvidas", declarou.
FHC negou que esteja sendo preparado qualquer pacote anticonsumo -"não queremos embrulhar ninguém"- ou que esteja pensando em reforma ministerial: "É impressionante como a imaginação humana é fértil".
Ao comentar a tramitação das reformas no Congresso, insistiu na tese de que elas demandam tempo. Afirmou ter ouvido de membros do governo dos EUA comentários sobre a dificuldade de se trabalhar com parlamentares novos.
"No Congresso dos EUA, há 70 deputados novos. No brasileiro, há 300. Os novos têm uma vontade enorme de participar. É preciso conversar com eles, explicar mais e mostrar a urgência dessas mudanças", disse Cardoso.
Exposição
Ele avaliou a viagem aos EUA como "curta, profícua e eficiente". Segundo ele, seu objetivo era se expor ao máximo à sociedade norte-americana, ao seu governo, e aos empresários.
"Eu queria esse relacionamento direto para mostrar que o Brasil tem rumo, sabe para onde vai. Não viemos pedir nada, nem exigir nada. Viemos expor pontos de vista e ouvir opiniões", declarou FHC.
Em resposta a pergunta da Folha, Fernando Henrique disse que em nenhum momento o assunto Sivam (Sistema de Vigilância sobre a Amazônia) foi mencionado. "Nem havia por que ser. Esse é um problema comercial".
A empresa brasileira encarregada de construir o Sivam em associação com a norte-americana Raytheon, está sendo acusada de ter cometido fraudes contra a Previdência e enquanto as inbestigações correm, o contrato está suspenso. Isso criou alguma insatisfação em setores do governo dos Estados Unidos.
FHC afirmou ter encontrado "ampla aceitação" de Clinton à sua tese de que outros países precisam participar mais das decisões da Organização das Nações Unidas para poderem atuar mais nas tarefas de manutenção da paz no mundo.
Traduzindo, isso significa: o Brasil quer entrar no Conselho de Segurança, o principal órgão executivo da ONU, para se comprometer mais com as forças internacionais de paz da entidade.
Mas Cardoso disse que não veio "cabalar votos" para o Brasil. "Nesse processo, não se cabala votos. Ou o país se credencia para o posto ou não. Nós achamos que o Brasil se credencia".
Sobre a votação da lei de patente, afirmou não querer "criar uma situação em que pareça que o Congresso esta agindo sob coação. A lei de patente não é imposição de ninguém, é decisão brasileira".
O governo apóia projeto de lei de patente do senador José Richa que também é considerado aceitável pelos EUA.
O último compromisso da agenda do presidente foi uma recepção na embaixada brasileira.

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