São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Maciel comemora vitórias de interino

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos salões do Palácio do Jaburu (residência oficial da Vice-Presidência), Marco Maciel (PFL) comemorou antecipadamente, na última quinta-feira, ao lado de ministros do Supremo Tribunal Federal e convidados para o jantar, seu mais longo período como interino do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"É um momento de otimismo", repetia aos convidados, eufórico com o apoio médio de 340 deputados nas votações do aumento do salário mínimo para R$ 100,00 atrelado às mudanças na alíquota das contribuições dos trabalhadores à Previdência.
"Agora vai de rodo", exultava Maciel, pouco antes do jantar, num telefonema ao deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), presidente da Câmara.
Naquele dia, Maciel estava de olho nas votações em plenário das primeiras propostas da reforma constitucional de FHC, previstas para maio.
Maciel e Luís Eduardo -dois dos maiores caciques do PFL- se falaram todos os dias da semana, desde que o vice recebeu o cargo de FHC, por telefone, na última segunda-feira.
Durante a interinidade, Maciel passou boa parte da jornada diária de 12 horas de trabalho grudado ao telefone.
Despachou de seu próprio gabinete, no prédio anexo ao Palácio do Planalto. Seus assessores calculam que a terça parte do tempo da interinidade foi consumida em diálogos telefônicos.
O líder do governo na Câmara, Luís Carlos Santos (PMDB-SP), por exemplo, diz que falou com Maciel de três a quatro vezes por dia. E tornou-se fã do estilo pragmático do vice.
"O Maciel é o Fernando Henrique que estava faltando no governo Fernando Henrique", disse, lembrando as habilidades do ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco na negociação do Plano Real.
Segundo Santos, a atuação do presidente interino foi fundamental para livrar o governo da ameaça de derrota na votação do salário mínimo e das emendas constitucionais da Previdência. "O risco era grande", disse.
Informado de que o humor dos aliados no Congresso ameaçava azedar sua interinidade, Marco Maciel não hesitou em telefonar para o presidente da Caixa Econômica Federal, Sérgio Cutolo, na terça-feira, determinando que suspendesse o programa de enxugamento nos cargos da entidade.
"As bancadas estão nervosas e não podemos perder votos", resumiu Maciel a Cutolo, que tratou de suspender as nomeações, esperando retomá-las a partir da próxima semana.
Poucas horas após alertar Maciel sobre a revolta no Congresso com a extinção das superintendências da Caixa nos Estados, o deputado Benito Gama (PFL-BA), vice-líder do governo, informava aos demais líderes aliados sobre a suspensão do programa.
Era a senha para acalmar as bancadas para a votação do projeto do salário mínimo, marcada para o dia seguinte. "Se a ordem fosse contrariada, o Marco demitiria o Cutolo", contou Benito à Folha.
O estilo pragmático de Marco Maciel determinou a dupla suspensão da reforma administrativa da Caixa e da reforma constitucional da Previdência no curto período da interinidade.
"O clima está contra a reforma da Previdência, vamos adiar", avaliou Maciel numa reunião com os líderes governistas.
O presidente interino tentou ainda abafar o impacto de uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), que apontou superávit nas contas da Previdência e pôs em suspeita os números oficiais sobre a crise financeira do sistema de aposentadorias -o principal argumento do governo para a reforma constitucional.
Conversou pessoalmente com Marcos Villaça, presidente do TCU. Convenceu Villaça, seu amigo e conterrâneo de Pernambuco, a divulgar uma nota dizendo que os números da auditoria não eram definitivos e dependiam de um exame no plenário do tribunal.
Deliberadamente, Maciel manteve distância do gabinete de Fernando Henrique. Somente duas vezes deixou o anexo do Planalto em direção ao prédio principal, para despachar com líderes do Congresso no gabinete do secretário-geral Eduardo Jorge.
O estilo do vice foi cuidadosamente calculado para parecer discreto e eficiente ao mesmo tempo. Na agenda de quarta-feira, reservou um espaço para Pernambuco, sua base eleitoral.
Realizou-se, a portas fechadas, uma pequena cerimônia no gabinete da Vice-Presidência, com a presença de 17 deputados da bancada pernambucana.
"O senhor é um vice prestigiado", discursou o coordenador da bancada, deputado José Jorge (PFL), seu amigo.
"Não existe político nacional. Todo político é estadual, regional", teorizou Maciel, evitando posicionar-se sobre uma lista de pedidos do Estado, cujo principal item é o interesse em sediar a nova refinaria que a Petrobrás planeja instalar no Nordeste.

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